Todas as sociedades do Planeta passam pôr um estado de amarga inquietação e dor. Para onde quer que for dirigida atentamente a nossa observação vemos a movimentação do desespero e o clamor da angústia.
É a inconformação política; é a inconsistência moral; é a luta sem interrupção contra o tráfico de alucinógenos; é a disputa do poder associada à cobiça pelo dinheiro fácil; é o desregramento sexual facilitado pelo expurgo da censura; é, finalmente, a ação do vício em toda a plenitude de suas formas de manifestação egoísta, enquanto, somente no Brasil, as estatísticas comprovam cerca de 50 milhões de miseráveis!
Em face disso cresce em muitos a ausência de fé, pois raciocinam como o autor destas linha antes de ser espírita - que se Deus existisse não haveria de permitir tamanho descalabro. Não há, neles, um raciocínio sadio, consciente, dentro de uma filosofia consistente. Há apenas exacerbação de um sentimento de revolta sem a participação efetiva de um pensar inteligente na conformidade das leis que regem o Universo.
Em todas as épocas da História identifica-se a presença de homens inspirados que vieram ao mundo com a missão de ensinar e refletir, de trabalhar e contribuir para o progresso, apontando os caminhos da iluminação e da sabedoria. Assim, surgiram os chamados iniciados na Índia, na China, no Egito, na Pérsia, na Grécia, entre os hebreus etc.
Desde Rama a Confúcio, de Hermes a Zoroastro, de Moisés a Sócrates, uma infinidade de pensadores, profetas e filósofos têm chamado a atenção da Humanidade para a objetividade maior da vida e para os riscos do destino.
Hoje, está entre os homens o Espiritismo, como Consolador prometido pelo Mestre excelso, a expor toda a verdade em torno de nossa própria realidade à luz da razão, revelando a vida, o Espírito e Deus como poder absoluto na autoria do Universo sem fronteiras.
Apontando reencarnação como processo natural da evolução do Espírito, o Espiritismo vem esclarecer que nós, todos nós, hoje protestamos desesperados contra a violência e as paixões promotoras do mal, fomos, em épocas passadas, em nossa insipiência moral, causadores, por nossa vez, de maldades e loucuras e que, em função das leis evolucionistas, sofremos, aprendemos e crescemos para novos estágios de aperfeiçoamento.
Não obstante a lentidão do processo, aprendemos a seguir as leis do bem através do amor, sofrendo as consequências de nossas quedas ou desvios.
A Doutrina Espírita nos ensina, ainda, que o desenvolvimento da ciência do amor não é algo que, estanque, para naqueles que se vão esclarecendo. É dever daqueles que se esclarecem ou se iluminam esclarecer e iluminar os que os acompanham de perto, sobretudo pela ação do próprio amor, tendo no exemplo o coadjuvante educacional.
Compete-nos, assim, voltar os olhos para a grande massa angustiada e enfermiça com expressões de muito amor e conduta fraternal.
Quanto mais amor, mais exemplificações positivas, mais fidelidade ao Evangelho de Jesus, que constitui o insuperável código de edificação da fé viva e racional que há de trabalhar na reforma íntima de todas as almas para sedimentar nas mentes e nos corações as novas sociedades que hão de florescer logo mais.
Quando houver amor suficiente nas almas, em todas as almas, não mais haverá campo para o mal, não haverá lugar para o ódio, não mais haverá estímulos para a cobiça, a inveja, o ciúme, numa palavra, para os vícios.
Quando houver amor, os responsáveis pela ordem política e social não cometerão o deslize espiritual de cogitar de leis severíssimas e estúpidas que atentem contra a vida, mas tratarão de perscrutar as causas das violências e dos crimes.
Quando houver amor deixará de existir a miséria social. Haverá a existência digna sem ausência de pão, e educação deixará de ser apanágio das classes melhor aquinhoadas de bens materiais.
Quando houver amor o rico terá remorso diante do pobre e a miséria não mais terá cabimento no seio das sociedades que se desenvolvam sob a bandeira da democracia e as bênçãos do evangelho do Cristo.
Finalmente, quando houver amor, a educação e a saúde, o bem estar e a moral cívica abrangerão a todos em discriminações na pirâmide social, normalmente, num país iluminado pelo cruzeiro do sul e que guarda em sua estrutura geográfica semelhança com a forma do humano coração.
Inaldo Lacerda Lima