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sábado, 2 de julho de 2011

CIÚME



Tipificando insegurança psicológica e desconfi­ança sistemática, a presença do ciúme na alma trans­forma-se em algoz implacável do ser. O paciente que lhe tomba nas malhas estertora em suspeitas e verda­des, que nunca encontram apoio nem reconforto.

Atormentado pelo ego dominador, o paciente, quando não consegue asfixiar aquele a quem estima ou ama, dominando-lhe a conduta e o pensamento, foge para o ciúme, em cujo campo se homizia a fim de entregar-se aos sofrimentos masoquistas que lhe ocul­tam a imaturidade, a preguiça mental e o desejo de impor-se à vitima da sua psicopatologia.

No aturdimento do ciúme, o ego vê o que lhe agra­da e se envolve apenas com aquilo em que acredita, ficando surdo à razão, à verdade.

O    ciúme atenaza quem o experimenta e aquele que se lhe torna alvo preferencial.

O    ciumento, inseguro dos próprios valores, des­carrega a fúria do estágio primitivista em manifesta­ções ridículas, quão perturbadoras, em que se conso­me. Ateia incêndios em ocorrências imaginárias, com a mente exacerbada pela suspeita infeliz, e envene­na-se com os vapores da revolta em que se rebolca, insanamente.

Desviando-se das pessoas e ampliando o círculo de prevalência, o ciúme envolve objetos e posições, posses e valores que assumem uma importância alu­cinada, isolando o paciente nos sítios da angústia ou armando-o com instrumentos de agressão contra to­dos e tudo.

O    ciúme tende a levar sua vítima à loucura.

O    ego enciumado fixa o móvel da existência no de­sejo exorbitante e circunscreve-se à paixão dominado­ra, destruindo as resistências morais e emocionais, que terminam por ceder-lhe as forças, deixando de reagir.

Armadilha do ego presunçoso, ele merece o ex­termínio através da conquista de valores expressivos, que demonstrem ao próprio indivíduo as suas possi­bilidades de ser feliz.

Somente o self pode conseguir essa façanha, ar­rebentando as algemas a que se encontra agrilhoa­do, para assomar, rico de realizações interiores, su­perando a estreiteza e os limites egóicos, expandin­do-se e preenchendo os espaços emocionais, as aspi­rações espirituais, vencidos pelos gases venenosos do ciúme.

Liberando-se da compressão do ciúme, a pouco e pou­co, o eu profundo respira, alcança as praias largas da existência e desfruta de paz com alguém ou não, com algo ou nada, porém com harmonia, com amor, com a vida.

DIVALDO P. FRANCO - O SER CONSCIENTE - Pelo Espírito Joanna de Ângelis

sexta-feira, 1 de julho de 2011

RESSENTIMENTO



Entre os tormentos psicológicos alienadores, a presença do ressentimento na criatura humana tem lugar de destaque.

Injustificável, sob todos os pontos de vista, ele se instala, enraizando-se no solo fértil das emoções em descontrole do paciente, aí engendrando males que terminam por consumir aquele que lhe dá guarida.

A vida expressa-se em padrões sociais, resulta­do da condição evolutiva das criaturas que se inter-relacionam. Como é natural, porque há uma larga va­riedade de biótipos emocionais, culturais e religiosos ou não, as suas são reações compatíveis com os ní­veis de consciência em que se encontram, exteriori­zando idéias e comportamentos que lhes correspon­dem ao estado no qual se demoram.

A convivência humana é feita por meio de episó­dios conflitivos, por falta de maturação geral que fa­voreça o entendimento e a transação psicológica em termos de bem-estar para todos os parceiros. Predo­minando a natureza animal em detrimento dos valo­res espirituais e éticos, a competição e o atrevimento armam ciladas, nas quais tombam os temperamen­tos mais confiantes e ingênuos, que se deixam, logo após, mortificar.

Descobrindo-se em logro, acreditando-se traído, o companheiro vitimado recorre ao ego e equipa-se de ressentimento, instalando, nos painéis da emotivida­de, cargas violentas que terminarão por desarmoni­zar-lhe os delicados equipamentos e se refletirão na conduta mental e moral.

O ressentimento, por caracterizar-se como expres­são de inferioridade, anela pelo desforço, consciente ou não, trabalhando por sobrepor o ego ferido ao con­ceito daquele que o desconsiderou.

No importante capítulo da saúde mental, indis­pensável ao equilíbrio integral, o ressentimento pode ser comparado a ferrugem nas peças da sensibilida­de, transferindo-se para a organização somática, re­fletindo-se como distúrbios gástricos e intestinais de demoradas conseqüências.

Gastrites e diarréias inex­plicáveis procedem dos tóxicos exalados pelo ressen­timento, que deve ser banido das paisagens morais da vida.

As pessoas são, normalmente, competitivas, no sentido negativo da palavra, desejando assenhorear­se dos espaços que lhes não pertencem e, por se en­contrarem em faixas primitivas da evolução, fazem-se injustas, perseguem, caluniam. É um direito que têm, na situação que as caracterizam. Aceitar-lhes, porém, os petardos, vincular-se-lhes às faixas vibratórias de baixo teor, no entanto, é opção de quem não se resolve por preservar a saúde ou não deseja crescer emocio­nalmente.

Quando o ressentimento exterioriza as suas ma­nifestações, deve ser combatido, mental e racionalmente, eliminando a ingerência do ego ferido e ense­jando a libertação do eu profundo, invariavelmente esquecido, relegado a plano secundário.

O indivíduo, através da reflexão e do auto-encon­tro, deve preocupar-se com o desvelamento do si, identificando os valores relevantes e os perniciosos. sem conflito, sem escamoteamento, trabalhando aqueles que são perturbadores, de modo a não fa­cultar ao ego doentio o apoio psicológico neles, para esconder-se sob o ressentimento na justificativa de buscar ajuda para a autocompaixão.

O processo de evolução é incessante, e as mudan­ças, as transformações fazem-se contínuas, impulsio­nando à conquista dos recursos adormecidos no imo, o Deus interno que jaz em todos os seres.

A liberação do ressentimento deve ser realizada através da racionalização, sem transferências nem compensações egóicas.

À medida que a experiência fixa aprendizados, esse terrível gigante da alma se apequena e se dilui, desaparece, a partir do momento em que deixa de re­ceber os alimentos de manutenção pela idéia fixa e mediante o desejo de revidar, de sofrer, de ser vítima...

DIVALDO P. FRANCO - O SER CONSCIENTE - Pelo Espírito Joanna de Ângelis

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Tudo Passará

PROBLEMAS HUMANOS



Os problemas humanos ou desafios existenciais fazem parte do organograma da evolução.

A criatura pensante é um ser incompleto ainda, em constante processo de aprimoramento, de trans­formações, em prolongado esforço para desenvolver os potenciais psicofísicos, parapsicológicos e mediú­nicos nela em latência.

Aferrada às impressões mais grosseiras do ego, face ao que considera como fatores indispensáveis à sobrevivência -valores materiais que propiciam ali­mentação, vestuário, repouso, prazer e tranqüilidade ante a doença e a velhice- desenvolve o apego e exterioriza o sentimento centralizador da posse, manten­do-se em alerta para a preservação desses bens, que lhe parecem de significado único, portanto, essenciais.

Qualquer ameaça, real ou imaginária, que possa produzir a perda, torna-se problema, que logo se in­corpora à conduta, gerando perturbação, desar.

Além desses, outros (problemas) há de natureza psicológica, como heranças reencarnacionistas, que ressumam em forma de fenômenos patológicos, in­quietadores.

Somem-se-lhes os que se derivam do inseguro in­ter-relacionamento pessoal, como decorrencia do que se consigna em condição de imperfeições da alma.

Os problemas enraízam-se, não raro, nos tecidos da malha delicada do psiquismo, avultando-se ou per­dendo o sentido, de acordo com as resistências fortes ou frágeis da personalidade individual.

O que a uns constitui gravame, aborrecimento, a outros não passa de insignificante acidente de percurso que estimula a marcha.

Quanto mais se valoriza o problema, mais vitali­dade se lhe oferece, aumentando-lhe a força de ação com os seus correspondentes efeitos.

Nas personalidades instáveis, normalmente os complexos psicológicos assumem as responsabilida­des pelas ocorrências problematizantes.

Quando algo em que se confia, ou do qual se es­pera resultado positivo, transforma-se em desastre, insucesso, o ego foge, escamoteia-o, por falta de cons­ciência lúcida, afirmando: Eu sou culpado.

A inferioridade psicológica desenvolve o comple­xo em que se refugia, e, mesmo quando em aparente conflito, nele se realiza, justifica-se, deixa de lutar.

Certamente, cada problema merece um tipo de atenção, de cuidado especial para a sua solução. Esse esforço deve ser natural, destituído dos estímulos ne­gativos do medo ou da ansiedade, de modo a analisar a situação conforme se apresente, e não consoante os fantasmas da insegurança desenhem na imagina­ção criativa -refúgio para a irresponsabilidade que não assume o papel que lhe diz respeito.

Em outros temperamentos, quando o problema se converte em dificuldade e ocorrência prejudicial, o ego estabelece: A culpa é do outro; ou da saúde; ou da fa­mília; ou do grupo social; ou da sociedade em geral, ou do destino...

Resolve-se a questão utilizando-se do complexo de superioridade, e mediante esta conduta coloca-se acima de qualquer suspeita de fragilidade, esconden­do-se nas justificativas de incompreendido, persegui­do, infeliz...

Evitando considerar o problema na sua real signi­ficação, passado o momento, compõe a consciência de culpa e esse mesmo ego recorre à condicional dos ver­bos, afligindo-se: Eu deveria ter feito de tal forma; eu poderia ter enfrentado; eu tentaria evitar...

Mecanismos perversos de imaturidade compõem a tecedura protetora do escapismo, para fugir das consequências dos problemas, cuja finalidade é tes­tar as possibilidades e valores de cada uma em par­ticular e de todas as criaturas em geral.

O problema humano, portanto, maior e mais ur­gente para ser eqüacionado, é a própria criatura.

Para consegui-lo, mister se torna o amadurecimen­to psicológico, decorrente do esforço sério e bem dire­cionado, do estudo do eu profundo e da sua busca in­cessante, que são as metas existenciais mais urgentes.

Na transitoriedade da condição humana, o eu pro­fundo deve emergir, desatando os inestimáveis recur­sos que lhe são inatos, graças aos quais o psiquismo comanda conscientemente a vida, abrindo o leque imenso das percepções paranormais.

Nesse elenco de registros parapsíquicos desabro­cham os recursos mediúnicos que propiciam o livre trânsito entre as duas esferas da vida: a física e a es­piritual.

Essa dilatação da capacidade parafísica propicia o mergulho do eu profundo -o Espírito- na causalida­de dos fenômenos humanos, assim interpretando, na origem, os problemas que sempre procedem das ex­periências anteriores.

Mesmo quando são atuais e começaram recente­mente, o ser que os enfrenta necessita deles, recupe­rando-se moralmente, trabalhando o amadurecimen­to, porquanto, o estado de infância psicológica de­corre da ausência de realizações evolutivas.

Ninguém permanece vivo sem o enfrentamento com os problemas, que existem para ser resolvidos, oferecendo o saldo positivo de evolução.

DIVALDO P. FRANCO - O SER CONSCIENTE - Pelo Espírito Joanna de Ângelis

quarta-feira, 29 de junho de 2011

COMPORTAMENTOS EXÓTICOS




A dependência psicológica do morbo da queixa, traduzindo insegurança e instabilidade emocional, leva a estados perturbadores que se podem evitar, mediante o cuidado na elaboração das idéias e do otimismo na observação das ocorrências.

O queixoso perdeu o endereço de si mesmo, trans­ferindo-se para os departamentos da fiscalização da conduta alheia.

Síndrome compulsiva para aparecer, o paciente oculta-se na mentirosa postura de vítima ou na condi­ção de portador de conduta inatacável, escorregando pela viciação acusadora, que mais lhe agrava o dis­túrbio no qual estertora.

Da simples fixação do erro e apenas dele -confor­me afirma o brocardo popular, enxerga uma agulha num palheiro- modifica o comportamento perdendo a linha convencional do que é correto e saudável para viver de maneira alienada, cultivando exotismos, dan­do largas ao inconsciente, responsável pelas repres­sões que se transformaram em mecanismos de afir­mação da personalidade.

Saúde, em realidade, é estado de bom humor, com inalterável tolerância pelas excentricidades dos outros e seus correspondentes erros.

O homem saudável sobressai pela harmonia e oti­mismo em todas as situações, mantendo-se equilibra­do, sem os azedumes perturbadores, os ademanes chamativos, nem as agravantes manifestações anô­malas.

A doença caracteriza-se pela inarmonia em qual­quer área da pessoa humana, gerando os distúrbios catalogados nos diferentes departamentos do corpo, da mente, da emoção.

A insegurança, a frustração, os complexos de in­ferioridade, perturbando o equilíbrio psicológico, transferem-se para as reações nervosas, manifestan­do-se em contrações musculares, fixações, repetições de gestos, palavras e conduta alienadoras, que dege­neram nas psicoses compulsivas, específicas, cada vez mais constritoras, em curso para o desajuste total...

O excêntrico é ser atormentado, ególatra; frágil, que se faz indiferente; temeroso, que se apresenta com reações imprevisíveis; insensível, que se recusa en­frentar-se. Ignora os outros e vive comportamentos especiais, como única maneira de liberar os conflitos em que se aturde.

A psicoterapia própria, reajustadora, apresenta-se propondo-lhe uma revisão de valores culturais e sociais, envolvendo-o no grupo familiar e nos proble­mas da comunidade, a fim de que rompa a carapaça da dissimulação e assuma as responsabilidades que interessam a todos, tornando-se célula harmônica, ativa, ao invés de manter-se em processo degenerati­vo, ameaçador...

Atavicamente herdeiro dos hábitos pretéritos, con­duz, de reencarnações infelizes, excentricidades mul­tiformes, como arquétipos do inconsciente coletivo que, no entanto, são gerados por ele próprio.

Nessa área, surgem os distúrbios do sexo, predo­minando a psicologia à morfologia, caracterizando bi­ótipos extravagantes, que chamam a atenção pelo desvio de conduta, por fenômeno psicológico de não aceitação de sua realidade, compondo uma personifi­cação que agride aos outros, e a si mesmo se realiza em fenômeno de autodestruição.

A exibição não é apenas uma forma de assumir o estado interior, psicológico, mas, também, de chocar, em evidente revolta contra o equilíbrio mente-corpo, emoção-função fisiológica...

Por extensão, a compulsão psicótica leva-o à ex­troversão exagerada, em todas as formas da sua co­municação com o mundo exterior, pondo para fora os conflitos, mascarados em expressões que lhe parecem afirmar-se perante si mesmo e as demais pessoas.

Outrossim, algumas dessas personalidades exó­ticas fazem-se isoladas onde quer que se encontrem, evitando o relacionamento com o grupo, em postura excêntrica, de natureza egoísta.

Exigem consideração, que não dispensam a nin­guém; auxílio, que jamais retribuem; gentilezas, que nunca oferecem, sendo rudes, mal-humorados, insen­síveis e presunçosos.

Essa é uma fase adiantada do comportamento exótico, que exige mais acentuada terapia de profun­didade.

Nesse estágio da conduta, os sonhos são-lhes ca­racterizados pela necessidade tormentosa de conse­guirem a realização plenificadora, que não atingem.

Devaneios íntimos povoam-lhes o campo onírico, referto de transtornos e pesadelos, que mais os in­quietam quando no estado de consciência lúcida.

Os fatos da infância ressurgem-lhes fantasmagó­ricos, e a imagem da mãe, excessivamente domina­dora ou tragicamente benévola, que transferiu para o rebento suas frustrações e nele passou a realizar-­se, anelando para a felicidade do ser querido tudo aquilo quanto não fruiu, neurótica, portanto, na sua estrutura maternal.

A psicoterapia deve apoiar-se na busca da cons­cientização do paciente, para que assimile novos há­bitos, empenhando-se em harmonizar a sua natureza interior com a sua realidade exterior, exercitando-se no convívio social sem a tentação de destacar-se, sen­do pessoa comum, identificada com os objetivos nor­mais da vida, que escolherá conforme as próprias ap­tidões, trabalhando com esforço a modelagem da nova personalidade.

O desenvolvimento da criatividade contribui para o ajustamento da personalidade ao equilíbrio, geran­do o enriquecimento interior, que anulará os condicio­namentos viciosos.

Sem dúvida, o acompanhamento do psicólogo as­sim como do analista atentos lhe propiciará o encon­tro com o eu profundo e seus conteúdos psíquicos, liberando-se das heranças neuróticas e dos condicio­namentos psicóticos.

O homem e a mulher saudáveis têm comporta­mento ético, sem pressão, e tornam-se comuns, sem vulgarizarem-se.

DIVALDO P. FRANCO - O SER CONSCIENTE - Pelo Espírito Joanna de Ângelis