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sábado, 23 de julho de 2011

O HOMEM INTEGRAL



As enciclopédias definem o homem como um “animal racional, moral e social, mamífero, bípede, bímano, capaz de linguagem articulada, que ocupa o primeiro lugar na escala zoológica; ser humano...”

O momento mais eloqüente do seu processo evolutivo deu-se quando adquiriu a consciência para discernir o bem do mal, a verdade da impostura, o certo do errado, prosseguindo na marcha ascensional que o conduzirá às culminâncias da angelitude.

Estudado largamente através dos séculos, Pitágoras afir­mava que ele (o homem) é a medida de todas as coisas, en­quanto Sócrates elucidava ser o objeto mais direto da preo­cupação filosófica.

Durante o estoicismo e o neoplatonismo houve uma pre­ocupação para que ocorresse a “dissolução do homem em a Natureza”, mesmo aí revelando a grande preocupação de ambas as escolas com este ser admirável.

Na conceituação cristã ele “transcende o mundo”, em uma dimensão totalmente diferente desta.

Já o racionalismo o considera, desde Descartes, como o “ser pensante por excelência, como a razão que compreende e explica o mundo e a si mesma.”

No espiritualismo idealista o “espírito tem a primazia em tudo que se relaciona com o mundo e a vida humana”, en­quanto que para o materialismo o “espírito não é mais que uma forma de atividade da matéria que, em determinada fase de sua evolução, de formas simples para outras mais comple­xas, adquiriu consciência...”

Mivart, o célebre naturalista inglês, analisando, psicolo­gicamente, o homem, esclarece que ele “difere dos outros animais pelas características da abstração, da percepção inte­lectual, da consciência de si mesmo, da reflexão, da memória racional, do julgamento, da síntese e indução intelectual, do raciocínio, da intuição intelectual, das emoções e sentimen­tos superiores, da linguagem racional, do verdadeiro poder de vontade.”

Sócrates e Platão estabeleceram que o homem era o re­sultado do ser ou Espírito imortal e do não ser ou sua matéria que, unidos, lhe facultavam o processo de evolução.

Os filósofos atomistas reduziam-no ao capricho das par­tículas que, em se desarticulando, aniquilavam-se através do fenômeno biológico da morte.

Jesus, superando todos os limites do conhecimento, fez-se o biótipo do Homem Integral, por haver desenvolvido to­das as aptidões herdadas de Deus, na condição de ser mais perfeito de que se tem notícia.

Toda a Sua vida é modelar, tornando-se o exemplo a ser seguido, para o logro da plenitude, de quem deseja libertação real.

A Filosofia, mediante as suas diversas escolas, tem pro­curado oferecer ao homem caminhos que o felicitem em con­tínuas tentativas de interpretar a vida e entendê-lo.

A Psicologia, que inicialmente se confundia com a estru­tura filosófica, de passo em passo libertou-se de seu jugo e, buscando estudar a psique, alcançou, na atualidade, expres­são de relevo para a compreensão do homem, dos seus pro­blemas e seus desafios psicológicos.

A multiplicidade de tendências ora vigentes, nessa área, comprova o interesse dos estudiosos desta e de outras disci­plinas do conhecimento, buscando a libertação do indivíduo em relação aos desafios e dificuldades que o afligem.

Algo recentemente (1966) surgiu, nos Estados Unidos, a quarta força em Psicologia, que é a Transpessoal, ampliando o campo de investigação além do Behaviorismo, da Psicaná­lise e da Psicologia Humanista, fornecendo mais amplos es­clarecimentos sobre o homem integral...

Os seus pioneiros vieram dos quadros da Psicologia Hu­manista, facultando a introdução de alguns ensinamentos e experiências orientais, graças aos quais abrem espaços para uma visão espiritualista do ser humano em maior profundi­dade.

O Espiritismo, por sua vez, sintetizando diversas corren­tes de pensamento psicológico e estudando o homem na sua condição de Espírito eterno, apresenta a proposta de um comportamento filosófico idealista, imortalista, auxiliando-o na equação dos seus problemas, sem violência e com base na reencarnação, apontando-lhe os rumos felizes que deve se­guir.

Na presente Obra fazemos um estudo de diversos fatores de perturbação psicológica, procurando oferecer terapias de fácil aplicação, fundamentadas na análise do homem à luz do Evangelho e do Espiritismo, de forma a auxiliá-lo no equilí­brio e no amadurecimento emocional, tendo sempre como ser ideal Jesus, o Homem Integral de todos os tempos.

Embora reconheçamos singela a nossa contribuição, es­peramos de alguma forma auxiliar aqueles que nos leiam com real desejo de renovação e de aquisição de saúde psicológica, consciente de havermos feito o máximo ao nosso alcance, neste grave momento da Humanidade.


O HOMEM INTEGRAL - DIVALDO PEREIRA FRANCO - DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A CONQUISTA DE SI MESMO



A aquisição da consciência demanda tempo e es­forço humano, tornando-se o grande desafio do pro­cesso da evolução do ser.

Surgem-lhe os pródromos, na fase do instinto, abrindo espaço para a razão, como fenômeno natural do desenvolvimento antropológico-psicológico-socio-lógico da criatura.

O discernimento do bem e do mal, do certo e do errado, e as aquisições ético-morais aparecem, como se fossem o medrar espontâneo da essência divina de que é constituído o Espírito; todavia, o aprimoramento e a profundidade desses valores dependem do empenho, do interesse, das realiza­ções de cada um.

Herdeiro dos arquétipos remotos dos seus ante­passados, o indivíduo mantém por atavismos religio­sos e culturais a consciência de culpa, especialmente os ocidentais, vitimados pelas heranças judaico-cris­tãs, no que diz respeito à desobediência de Eva, no paraíso, e ao fratricídio cometido por Caim contra Abel.

A divina punição de Deus pela rebeldia da mulher e pela insensatez do homem, que a seguiu no erro, responde pelo sofrimento que os acicata, assim como a expulsão do criminoso aumenta-lhe a angústia, dan­do-lhe margem ao ciúme doentio e à raiva, conside­rando a preferência injustificável de Deus por Abel, cujas oferendas mais O agradavam...

A absurda aceitação literal do texto bíblico, que tem um caráter simbólico, quiçá para demonstrar o momento em que surge a consciência, - quando o ser pode identificar o que deve, daquilo que não lhe é lícito realizar, saindo do automatismo do instinto para a seleção do discernimento racional, representados no mito da Árvore do conhecimento do bem e do mal - devido a interpretações apaixonadas e fanáticas, ge­rou conflitos que ainda remanescem nas vidas psico­logicamente imaturas.

Na fase do instinto, os fenômenos biológicos au­tomáticos não se fazem acompanhar das dores, que são maiores conforme mais seja apurada a sensibili­dade, qual sucede na ocorrência do parto, que passou a ser punição divina, tornando a procriação um verda­deiro castigo, fruto ainda da desobediência que, mile­narmente, transformou a comunhão sexual em conde­nável e imunda, do ponto de vista puritano e hipócrita.

Fonte de vida, o sexo é o instrumento para a per­petuação da espécie, não sendo credor de qualquer condenação. O ultraje e a vulgaridade, a nobreza e a elevação amorosa mediante os quais se expressa, de­pendem do seu usuário e não da sua função em si mesma.

Igualmente a arbitrária eleição celeste de um por outro irmão, ambos gerados em circunstâncias iguais, teria que despertar ressentimentos contraditórios, de ciúme e de raiva, no rejeitado, que levariam inevita­velmente ao hediondo fratricídio...

De geração em geração, a criança que se sentia desprezada, desenvolveu esses sentimentos perver­sos, perturbando o desenvolvimento da consciência e a conseqüente conquista de si mesmo.

Em qualquer atividade, competitiva ou não, o in­consciente desatrela a insegurança infantil, ali ador­mecida, e surgem os conflitos, a infelicidade, a des­confiança desastrosa.

Graças, porém, à reencarnação, o progresso do ser é imperioso, inevitável, e os mecanismos da evolução se expressam, trabalhando-o e promovendo-o a níveis e patamares cada vez mais elevados, até quando o ser, liberto dos conflitos, conquista os sentimentos que canalizará na direção de novas metas, que alcança realizando-se, plenificando-se.

Já não luta contra as coisas, mas luta pelas coi­sas, que aprende a selecionar e qualificar, abando­nando, por superação, as paixões dissolventes e fi­xando os valores que enobrecem.

Percebendo-se instrumento da vida, que faz par­te da harmonia do Universo, o indivíduo supera a rai­va, por ausência do ciúme, e não compete para des­truir, mas trabalha para fomentar o progresso, no qual se engaja e se realiza.

A conquista de si mesmo resulta, portanto, do amadurecimento psicológico, pela racionalização dos acontecimentos, e graças às realizações da solidari­edade, que facultam a superação das provas e dos sofrimentos, os quais passam então a ter um com­portamento filosófico dignificante — instrumentos de valorização da vida — ao invés de serem castigos àculpa oculta, jacente no mundo íntimo.

A libertação dessa consciência doentia facilita o entendimento do mecanismo da responsabilidade no comportamento que estabelece o lema: A cada um conforme os seus atos, segundo ensinou o Terapeuta Galileu.

Senhor do discernimento, o homem descobre que colhe de acordo com o que semeia, e que tudo quanto lhe acontece, procede, não tendo caráter castrador ou punitivo. Sente-se emulado a gerar novos futuros efei­tos, agindo com consciência e produzindo com eqüi­dade. Tal conduta proporciona-lhe a alegria que provém da tranquilidade da realização, considerando que sem­pre é tempo de reparar, e postergação é-lhe prejuízo para a economia da sua plenificação.

O homem que se conquista supera os mecanis­mos de fuga, de transferência de responsabilidade, de rejeição e outros, para enfrentar-se sem acusação. sem justificação, sem perdão.

Descobre a vida e que se encontra vivo, que hoje é o seu dia, utilizando-o com propriedade e sabedoria. Não tem passado, nem futuro, neste tempo intempo­ral da relatividade terrestre, e a sua é uma consciên­cia atual, fértil e rica de aspirações, que busca a inte­gração na Cósmica, que já desfruta, vivendo-a nas expressões do amor a tudo e a todos intensamente.

A conquista de si mesmo é lograda mediante o querer.

Jesus afirmou que se poderia fazer tudo quanto Ele fez, se se quisesse, bastando empenhar-se e en­tregar-se à realização. Para tanto, necessário seria a fé em si mesmo, nos valores intrínsecos, que seriam desenvolvidos a partir do momento da opção.

Francisco de Assis, o santo, assim quis e o conse­guiu.

Apóstolos do bem, da ciência e da fé, do pensa­mento e da ação quiseram, e o lograram.

Homens e mulheres anônimos entregaram-se aos ideais que lhes vitalizaram as existências e, superan­do-se, autoconquistaram-se.

A conquista de si mesmo está ao alcance do que­rer para ser, do esforçar-se para triunfar, do viver para jamais morrer...

DIVALDO P. FRANCO - O SER CONSCIENTE - Pelo Espírito Joanna de Ângelis

quinta-feira, 21 de julho de 2011

TER E SER



Remanescem da infância física traços de insegu­rança, e conflitos perduram na idade adulta, em razão da falta de maturidade psicológica do ser, expressan­do-se como apegos às coisas e pessoas, com a conse­qüente rejeição de si mesmo, instabilidade emocional e desajuste social.

Usando os conhecidos mecanismos de evasão da responsabilidade e sentindo-se fragilizado, o indiví­duo busca a auto-realização, fixando-se em valores externos como forma de destaque no grupo social, ig­norando a sua realidade profunda.

Sentimentos egocêntricos passam a aturdi-lo e, inconscientemente, acredita-se merecedor de tudo em primeiro lugar, com desconsideração pelos de­mais. Quando tal não ocorre, surgem-lhe as marcas predominantes do egoísmo e passa a reunir recursos que amontoa satisfazendo o ego, mesmo quando atin­ge os picos do poder ganancioso.

A imaturidade asselvaja-lhe e obnubila-lhe a ra­zão, que permanece asfixiada pelos tormentos do ter, enlouquecendo, a pouco e pouco, a sua vítima, cada vez mais ansiosa por novos haveres.

Ninguém vive bem sem a segurança de si mes­mo. Quando esta não decorre do auto-encontro liber­tador, é buscada através dos meios externos, que en­volvem o seu possuidor em preocupações de aumen­tá-las, em medos de perdê-las, passando à angústia de mais assegurar-se da sua retenção. Como efeito, vai traído pela concupiscência da posse, tornando-se possuído pelo objeto que supõe possuir.

Desperta-se-lhe em grau crescente a avareza que o amarfanha, e, depois da alegria fugaz da posse material, transfere-se para a ilusão da dominação ar­bitrária de outras vidas, de outras pessoas, acredi­tando-se capaz de detê-las, subjugá-las como con­quistas a mais.

Autodesprezando-se, graças à insegurança ínti­ma, não se considera merecedor de afetos, supondo que, quantos se lhe acerquem, estão interessados no que ele tem, e jamais no que é.

Porque se sente sem possibilidade de amar, em­bora lhe irrompam episódios de afetividade, que con­verte em paixões de gozo imediato, não crê que pode ser amado com desinteresse pelos seus haveres.

Assim não sucedendo e vindo a consorciar-se, ele o faz mediante cláusulas de separação de bens, bens que lhe são alicerces de segurança no inconsciente.

Com a percepção embotada, mede os fenômenos existenciais com os instrumentos da atividade contá­bil, considerando triunfadores somente os que dis­põem de contas bancárias volumosas, latifúndios lar­gos e semoventes aos milhares...

A sua louca ambição torna-o misantropo, deten­do-o no pórtico das grandes realizações, sem a cora­gem moral para atravessá-lo, amesquinhando-o. Se vence o medo de doar algo e o realiza, necessita de ter o ego recompensado pela gratidão, passando àcondição de benfeitor, quando tudo no mundo, com o seu caráter de transitoriedade, faz, das criaturas aqui­nhoadas, mordomos que prestarão contas, ou servi­dores encarregados de bem aplicar, qual o ensina­mento de Jesus através da parábola dos talentos no Evangelho.

O    bom aplicador, além dos juros que recebe, ex­perimenta o júbilo da realização, a imensa alegria do serviço, exteriorizada no bem-estar que proporciona.

Ninguém tem coisa alguma no mundo: nem cor­po, nem valores amoedados, nem pessoas sob domí­nio... A incessante transformação, vigente no Cosmo, tudo altera a cada instante, e o vivo de agora estará morto logo mais; o dominador torna-se vítima; o cor­po se dilui; os objetos passam de mãos...

Todo aquele que busca a posse, o ter e reter, per­manece vazio de sentimentos e, porque nada é, en­che-se de artefatos e coisas brilhantes, porém mor­tas, prosseguindo cheio de espaços e abarrotado de preocupações afugentes.

O objetivo da vida humana parte do ponto inicial no corpo — a infância — e cresce sem perder o contato com a sua realidade original, ser transcendental que é. Chegando à realização da consciência, deve expan­di-la, enquanto mais se autopenetra e descobre no­vos potenciais a desenvolver.

Ser consciente de si mesmo é a meta existencial, conseguindo o auto-amor que desdobra a bondade, a compaixão, a ação benéfica em favor do próximo.

Alguns psicólogos transpessoais concluem que, à meditação transcendental –abstrata-, os sentimen­tos de amor e autodoação –concretos- devem pre­valecer emulando o indivíduo a ser integral, realiza­do, capacitado para a felicidade.

Os conflitos então cedem lugar, quando os seus espaços são preenchidos pelas realizações expressi­vas, libertadoras.

A autovalorização não-egoísta, despretensiosa, permite o encontro do self, que se desvela com infini­tas possibilidades. Rompem-se os limites que ames­quinham e ampliam-se as áreas de produção que en­grandecem.

Correspondendo a esse estágio, o amadurecimen­to psicológico faz que o indivíduo cresça sempre e cada vez mais, reconhecendo a sua pequenez, que se agranda ante a excelência da Vida que ele con­quista.

O individualismo que nele prevalecia cede lugar ao amor que convive e se expande na direção dos ou­tros, aqueles que constituem a sociedade na qual se encontra, passando a trabalhá-la, a fim de que tam­bém ela seja feliz.

A vaidade, o narcisismo, que existiam na sua per­sonalidade, desaparecem por ausência da vitalidade fornecida pelo ego inseguro, que tinha necessidade de sobreviver, já que o self se encontrava soterrado no desconhecimento.

A conquista do si é realização que independe do ter, do reter, mas que não prescinde do interesse e da luta enviada para ser.

A segurança psicológica do indivíduo centraliza-se no autoconhecimento, na auto-identificação, no auto-amor, no ser.

DIVALDO P. FRANCO - O SER CONSCIENTE - Pelo Espírito Joanna de Ângelis