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sexta-feira, 29 de julho de 2011

HOMENS-APARÊNCIA




A falta de uma consciência idealista, na qual predomina o bem geral sem os impulsos egoístas que trabalham em favor do imediatismo, torna difícil a realização da liberdade.

Para lográ-la até a plenitude, faz-se mister um seguro co­nhecimento interior do homem, das suas aspirações e metas, bem como os instrumentos de trabalho com os quais preten­de movimentar-se.

Ignorando as reações pessoais sempre imprevisíveis, fa­cilmente ele tomba nas ciladas da violência ou entrega-se à depressão, quando surgem dificuldades e as respostas ao seu esforço não correspondem ao anelado.

Incapaz de controlar-se, mantendo uma atitude criativa e otimista, mesmo em face dos dissabores, a liberdade se lhe transforma em uma conquista vazia, cuja finalidade é per­mirtir-lhe extravasar os impulsos primitivos e as paixões agressivas, em atentado cruel contra aquilo que pretende: o anseio de ser livre.

O homem livre, sonha e trabalha, confia e persevera, se­meando, em tempo próprio, a feliz colheita porvindoura.

Não se pode conseguir de um para outro momento a li­berdade, nem a herdar das gerações passadas. Cada indiví­duo a conquista lentamente, acumulando experiências que amadurecem o discernimento e a razão de que se utiliza no momento de vivenciá-la.

Ela começa na escolha de si próprio, conforme o enunci­ado cristão do “amar ao próximo como a si mesmo” se ama, porquanto não existindo este sentimento pessoal de respeito à própria individualidade, que propõe os limites dos direitos na medida dos deveres executados, não se pode esperar con­sideração aos valores alheios, com a consequente liberdade dos outros indivíduos.

Esse amor a si mesmo ergue o homem aos patamares su­periores da vida que a sua consciência idealista descortina e o seu esforço produz. Meta a meta, ele ascende, fazendo op­ções mais audaciosas no campo do belo, do útil, do humano, deixando pegadas indicadoras para os indecisos da retaguar­da. Sua personalidade se ilumina de esperança e a sua condu­ta se permeia de paz.

Lentamente, são retiradas as aparências do conveniente social, do agradável estatuído, do conforme desejado, para que a legítima identidade apareça e o homem se torne o que realmente e.

É claro que nos referimos às expressões de engrandeci­mento que, normalmente, permanecem enclausuradas no ín­timo sem oportunidade de exteriorizar-se, soterradas, às ve­zes, sob sucessivas camadas de medo, de indiferença, de aco­modação.

Muitos homens temem ser conhecidos nos seus sentimen­tos éticos, nos seus esforços de saudável idealismo, tacha­dos, esses valores, pelos pigmeus morais, encarcerados no exclusivismo das suas paixões, como sentimentalismos, pie­guices, fraquezas de caráter.

Confundem coragem com impulsividade e força com ex­pressões do poder, da dominação.

Porque vivem sem liber­dade, desdenham os homens livres.

Na consciência profunda está ínsita a verdadeira liberda­de, que deve ser buscada mediante o mergulho no âmago do ser e a reflexão demorada, propiciadora do autoconhecimen­to.

Em realidade o homem é livre e nasceu para preservar este estado.

Não tem limites a conquista da liberdade, porquanto ele pode, embora não deva, optar por preservar ou não o corpo, através do suicídio espetacular ou escamoteado, na recusa consciente ou não de continuar a viver.

Não se decidindo, porém, em preservar esse atributo, sus­tentando ou melhorando as estruturas psicológicas, sofre os efeitos do relacionamento social pressionador, e tomba nos meandros da turbulência dos dias que vive.

Esvaziados de objetivos elevados, os movimentos dos grupos sociais como dos indivíduos proporcionam a anar­quia, que se mascara de liberdade, destacando-se a violência de um lado e o conformismo de outro, sem um relaciona­mento saudável entre as criaturas. Dissimulam-se os senti­mentos para se apresentarem bem, conforme o figurino vi­gente, detestando-se fraternalmente e vivendo a competição frenética e desgastante para cada qual alcançar a supremacia no grupo, agradando o ego atormentado.

Apesar de acumularem haveres pregando o existencialis­mo comportamental, esses vitoriosos permanecem vazios, sem ideal, sem consciência ética, mumificados nas ambições e presos aos desejos que nunca satisfazem.

Desencadeia-se um distúrbio no conjunto social, que afe­ta o homem, por sua vez perturbando mais o grupo, em círcu­lo vicioso, no qual a causa, gerando efeitos, estes se tornam novas causas de tribulação.

Reverter o sistema injusto e desgastante, no qual se mede e valoriza o homem pelo que tem, e não pelo que é, em razão do que pode, não do que faz, é o compromisso de todo aquele que é livre.

A desordenada preocupação por adquirir, a qualquer pre­ço, equipamentos, veículos, objetos da propaganda alucina­da; a ansiedade para ser bem-visto e acatado no meio social; o tormento para vestir-se de acordo com a moda exigente; a inquietação para estar bem informado sobre os temas sem profundidade de cada momento transtornam o equilíbrio emocional da criatura, arrojando-a aos abismos da perda da identidade, à desestruturação pessoal, à confusão de valores.

Homens-aparência, tornam-se quase todos. Calmos ou não, fortes ou fracos, ricos ou pobres enxameiam num con­texto confuso, sem liberdade, no entanto, em regime político e social de liberdade, atulhados de ferramentas de trabalho como de lazer, desmotivados e automatistas, sem rumo. Pros­seguem, avançando -ou caminhando em círculo?- desnor­teados na grande horizontal das conquistas de fora, temendo a verticalidade da interiorização realmente libertadora.

O HOMEM INTEGRAL - DIVALDO PEREIRA FRANCO - DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

quinta-feira, 28 de julho de 2011

LIBERDADE




As pressões constantes geradoras de medo, não raro ex­trapolam em forma de violência propondo a liberdade.

Sentindo-se coarctado nos movimentos, o animal reage à prisão e debate-se até à exaustão, na tentativa de libertar-se. Da mesma forma, o homem, sofrendo limites, aspira pela amplidão de horizontes e luta pela sua independência.

É perfeitamente normal o empenho do cidadão em favor da sua libertação total, passo esse valioso na conquista de si mesmo. Todavia, pouco esclarecido e vitimado pelas compressões que o alucinam, utiliza-se dos instrumentos da re­beldia, desencadeando lutas e violência para lograr o que as­pira como condição fundamental de felicidade.

A violência porém, jamais oferece a liberdade real.

Arranca o indivíduo da opressão política, arrebenta-lhe as injunções caóticas impostas pela sociedade injusta, favo­rece-o com terras e objetos, salários e haveres.

Isto, porém, não é a liberdade, no seu sentido profundo.

São conquistas de natureza diferente, nas áreas das ne­cessidades dos grupos e aglomerados humanos, longe de ser a meta de plenitude, talvez constituindo um meio que faculte a realização do próximo passo, que é o do autodescobrimen­to.

A violência retém, porém não doa, já que sempre abre perspectivas para futuros embates sob a ação de maiores cru­eldades.

As guerras, que se sucedem, apóiam-se nos tratados de paz mal formulados, quando a violência selou, com sujeição, o destino da nação ou do povo submetido...

O  instinto de rebeldia faz parte da psique humana.

A criança que se obstina usando a negativa, afirma a sua identidade, exteriorizando o anseio inconsciente de ser livre. Porque carece de responsabilidade, não pode entender o que tal significa.

Somente mediante a responsabilidade, o homem se liber­ta, sem tornar-se libertino ou insensato.

A sociedade, que fala em nome das pessoas de sucesso, estabelece que a liberdade é o direito de fazer o que a cada qual apraz, sem dar-se conta de que essa liberação da vonta­de, termina por interditar o direito dos outros, fomentando as lutas individuais, dos que se sentem impedidos, espocando nas violências de grupos e classes, cujos direitos se encon­tram dilapidados.

Se cada indivíduo agir conforme achar melhor, conside­rando-se liberado, essa atitude trabalha em favor da anarquia, responsável por desmandos sem limites.

Em nome da liberdade, atuam desonestamente os vende­dores das paixões ignóbeis, que espalham o bafio criminoso das mercadorias do prazer e da loucura.

A denominada liberação sexual, sem a correspondente maturidade emocional e dignidade espiritual, rebaixou as fon­tes genésicas a paul venenoso, no qual, as expressões aber­rantes assumem cidadania, inspirando os comportamentos alienados e favorecendo a contaminação das enfermidades degenerativas e destruidoras da existência corporal. Ao mes­mo tempo, faculta o aborto delituoso, a promiscuidade mo­ral, reconduzindo o homem a um estágio de primarismo dan­tes não vivenciado.

A liberdade de expressão, aos emocionalmente desajus­tados, tem permitido que a morbidez e o choque se revelem com mais naturalidade do que a cultura e a educação, por enxamearem mais os aventureiros, com as exceções compre­ensíveis, do que os indivíduos conscientes e responsáveis.

A liberdade é um direito que se consolida, na razão direta em que o homem se autodescobre e se conscientiza, podendo identificar os próprios valores, que deve aplicar de forma edificante, respeitando a natureza e tudo quanto nela existe.

A agressão ecológica, em forma de violencia cruel contra as forças mantenedoras da vida, demonstra que o homem, em nome da sua liberdade, destrói, mutila, mata e mata-se, por fim, por não saber usá-la conforme seria de desejar.

A liberdade começa no pensamento, como forma de aspi­ração do bom, do belo, do ideal que são tudo quanto fomenta a vida e a sustenta, dá vida e a mantém.

Qualquer comportamento que coage, reprime, viola, é ad­versário da liberdade.

Examinando o magno problema da liberdade, Jesus sin­tetizou os meios de consegui-la, na busca da verdade, única opção para tornar o homem realmente livre.

A verdade, em síntese, que é Deus -e não a verdade con­veniente de cada um, que é a forma doentia de projetar a pró­pria sombra, de impor a sua imagem, de submeter à sua, a vontade alheia- constitui meta prioritária.

Deus, porém, está dentro de todos nós, e é necessário imergir na Sua busca, de modo que O exteriorizemos sobran­ceiro e tranquilizador.

As conquistas externas atulham as casas e os cofres de coisas, sem torná-los lares nem recipientes de luz, destituí­dos de significado, quando nos momentos magnos das gran­des dores, dos fortes dissabores, da morte, que chegam a to­dos...

A liberdade, que se encerra no túmulo, é utópica, menti­rosa.

Livre, é o Espírito que se domina e se conquista. movi­mentando-se com sabedoria por toda parte, idealista e amo­roso, superando as injunções pressionadoras e amesquinhantes.

Ghandi fez-se o protótipo da liberdade, mesmo quando nas várias vezes em que esteve encarcerado, informando que “não tinha mensagem a dar. A minha mensagem é a minha vida.”

Antes dele, Sócrates permaneceu em liberdade, embora na prisão e na morte que lhe adveio depois.

E Cristo, cuja mensagem é o amor que liberta, prosse­gue ensinando a eficiente maneira de conquistar a liberdade.

Nenhuma pressão de fora pode levar à falta de liberdade, quando se conseguir ser lúcido e responsável interiormente, portanto, livre.

Não se justifica, deste modo, o medo da liberdade, como efeito dos fatores extrínsecos, que as situações políticas, so­ciais e econômicas estabelecem como forma espúria de fazer que sobrevivam as suas instituições, subjugando aqueles que vencem. O homem que as edifica, dá-se conta, um dia, que dominando povos, grupos, classes ou pessoas também não é livre, escravo, ele próprio, daqueles que submete aos seus caprichos, mas lhe roubam a opção de viver em liberdade.

Não há liberdade quando se mente, engana, impõe e atrai­çoa.

A liberdade é uma atitude perante a vida.

Assim, portanto, só há liberdade quando se ama consci­entemente.

O HOMEM INTEGRAL - DIVALDO PEREIRA FRANCO - DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

quarta-feira, 27 de julho de 2011

SOLIDÃO




Espectro cruel que se origina nas paisagens do medo, a solidão é, na atualidade, um dos mais graves problemas que desafiam a cultura e o homem.

A necessidade de relacionamento humano, como meca­nismo de afirmação pessoal, tem gerado vários distúrbios de comportamento, nas pessoas tímidas, nos indivíduos sensí­veis e em todos quantos enfrentam problemas para um inter­câmbio de idéias, uma abertura emocional, uma convivência saudável.

Enxameiam, por isso mesmo, na sociedade, os solitários por livre opção e aqueloutros que se consideram marginalizados ou são deixados à distância pelas conveniências dos grupos.

A sociedade competitiva dispõe de pouco tempo para a cordialidade desinteressada, para deter-se em labores a bene­fício de outrem.

O atropelamento pela oportunidade do triunfo impede que o indivíduo, como unidade essencial do grupo, receba consi­deração e respeito ou conceda ao próximo este apoio que gostaria de fruir.

A mídia exalta os triunfadores de agora, fazendo o pane­gírico dos grupos vitoriosos e esquecendo com facilidade os heróis de ontem, ao mesmo tempo que sepulta os valores do idealismo, sob a retumbante cobertura da insensatez e do oportunismo.

O homem, no entanto, sem ideal, mumifica-se. O ideal é-lhe de vital importância, como o ar que respira.

O sucesso social não exige, necessariamente, os valores intelecto-morais, nem o vitalismo das idéias superiores, an­tes cobra os louros das circunstâncias favoráveis e se apóia na bem urdida promoção de mercado, para vender imagens e ilusões breves, continuamente substituídas, graças à rapidez com que devora as suas estrelas.

Quem, portanto, não se vê projetado no caleidoscópio mágico do mundo fantástico, considera-se fracassado e recua para a solidão, em atitude de fuga de uma realidade mentiro­sa, trabalhada em estúdios artificiais.

Parece muito importante, no comportamento social, rece­ber e ser recebido, como forma de triunfo, e o medo de não ser lembrado nas rodas bem sucedidas, leva o homem a esta­dos de amarga solidão, de desprezo por si mesmo.

O homem faz questão de ser visto, de estar cercado de bulha, de sorrisos embora sem profundidade afetiva, sem o calor sincero das amizades, nessas áreas, sempre superficiais e interesseiras. O medo de ser deixado em plano secundário, de não ter para onde ir, com quem conversar, significaria ser desconsiderado, atirado à solidão.

Há uma terrível preocupação para ser visto, fotografado, comentando, vendendo saúde, felicidade, mesmo que fictí­cia.

A conquista desse triunfo e a falta dele produzem soli­dão.

O irreal, que esconde o caráter legítimo e as lídimas aspi­rações do ser, conduz à psiconeurose de autodestruição.

A ausência do aplauso amargura, face ao conceito falso em torno do que se considera, habitualmente como triunfo.

Há terrível ânsia para ser-se amado, não para conquistar o amor e amar, porém para ser objeto de prazer, mascarado de afetividade. Dessa forma, no entanto, a pessoa se desama, não se torna amável nem amada realmente.

Campeia, assim, o “medo da solidão”, numa demonstra­ção caótica de instabilidade emocional do homem, que pare­ce haver perdido o rumo, o equilíbrio.

O silêncio, o isolamento espontâneo são muito saudáveis para o indivíduo, podendo permitir-lhe reflexão, estudo, auto-aprimoramento, revisão de conceitos perante a vida e a paz interior.

O sucesso, decantado como forma de felicidade, é, tal­vez, um dos maiores responsáveis pela solidão profunda.

Os campeões de bilheteria nos shows, nas rádios, televi­sões e cinemas, os astros invejados, os reis dos esportes, dos negócios cercam-se de fanáticos e apaixonados, sem que se vejam livres da solidão.

Suicídios espetaculares, quedas escabrosas nos porões dos vícios e dos tóxicos comprovam quanto eles são tristes e so­litários. Eles sabem que o amor, com que os cercam, traz, apenas, apelos de promoção pessoal dos mesmos que os en­volvem, e receiam os novos competidores que lhes ameaçam os tronos, impondo-lhes terríveis ansiedades e inseguranças, que procuram esconder no álcool, nos estimulantes e nos de­rivativos que os mantêm sorridentes, quando gostariam de chorar, quão inatingidos, quanto se sentem fracos e huma­nos.

A neurose da solidão é doença contemporânea, que ame­aça o homem distraído pela conquista dos valores de peque­na monta, porque transitórios.

Resolvendo-se por afeiçoar-se aos ideais de engrandeci­mento humano, por contribuir com a hora vazia em favor dos enfermos e idosos, das crianças em abandono e dos ani­mais, sua vida adquiriria cor e utilidade, enriquecendo-se de um companheirismo digno, em cujo interesse alargar-se-ia a esfera dos objetivos que motivam as experiências vivenciais e inoculam coragem para enfrentar-se, aceitando os desafios naturais.

O  homem solitário, todo aquele que se diz em solidão, exceto nos casos patológicos, é alguém que se receia encon­trar, que evita descobrir-se, conhecer-se, assim ocultando a sua identidade na aparência de infeliz, de incompreendido e abandonado.

A velha conceituação de que todo aquele que tem amigos não passa necessidades, constitui uma forma desonesta de estimar, ocultando o utilitarismo sub-reptício, quando o pra­zer da afeição em si mesma deve ser a meta a alcançar-se no inter-relacionamento humano, com vista à satisfação de amar.

O  medo da solidão, portanto, deve ceder lugar, à confian­ça nos próprios valores, mesmo que de pequenos conteúdos, porém significativos para quem os possui.

Jesus, o Psicoterapeuta Excelente, ao sugerir o “amor ao próximo como a si mesmo” após o “amor a Deus” como a mais importante conquista do homem, conclama-o a amar-se, a valorizar-se, a conhecer-se de modo a plenificar-se com o que é e tem, multiplicando esses recursos em implementos de vida eterna, em saudável companheirismo, sem a preocu­pação de receber resposta equivalente.

O  homem solidário, jamais se encontra solitário.

O  egoísta, em contrapartida, nunca está solícito, por isto, sempre atormentado.

Possívelmente, o homem que caminha a sós se encontre mais sem solidão, do que outros que, no tumulto, inseguros, estão cercados, mimados, padecendo disputas, todavia sem paz nem fé interior.

A fé no futuro, a luta por conseguir a paz íntima — eis os recursos mais valiosos para vencer-se a solidão, saindo do arcabouço egoísta e ambicioso para a realização edificante onde quer que se esteja.

O HOMEM INTEGRAL - DIVALDO PEREIRA FRANCO - DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS