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sábado, 15 de outubro de 2011

INIBIÇÃO


A timidez excessiva disfarça o orgulho dominador.
Algumas vezes, esse estado decorre de um me­canismo inibitório fixado na personalidade, que se transformou em comportamento doentio.
O indivíduo que se atormenta, vitimado pelo complexo de inferioridade, mesmo que camuflado, evita chamar a atenção, embora interiormente viva um vulcão de ansiedades e aspirações que asfixia aflitivamente, tomando posições isolacionistas, de onde observa o mundo exterior e as outras pessoas, considerando-as levianas, porque alegres; insensa­tas, porque espontâneas, ou exibicionistas, porque extrovertidas.
Experimentando a castração emocional que o im­pede momentaneamente de viver o clima social em que se encontra, sente-se rejeitado, quando é ele pró­prio quem se recusa a participar das atividades nas quais todos se encontram. Não apenas isso, mas tam­bém se utiliza do falso recurso de justificação, su­pondo-se isolado, porquanto ninguém se interessa pela sua pessoa, quando, em verdade, por sua vez, tampouco se empenha em tomar conhecimento do que se passa fora de si, ou mesmo demonstrar qual­quer interesse pelo seu próximo.
Como é natural, não se apresentando receptivo, em razão do respeito que todos se devem mutuamente, as outras pessoas poupam-se ao prazer, ou não prazer de buscá-lo para manter qualquer tipo de intercâmbio fraternal ou afetivo.
A inibição, essa resistência psicológica íntima, a pessoas, acontecimentos e condutas, é causa de mui­tos males na área da emoção. Empurra o paciente para reflexões pessimistas e autodestrutivas como forma de auto-realização doentia.
Sentindo-se não aceito, acumula azedume e ator­menta-se, frustrando as inumeráveis possibilidades de alegria e comunicação.
Quase sempre esse estado mórbido decorre de uma infância infeliz, na qual conviveu com pais au­toritários, familiares rebeldes e agressivos, sentindo-se empurrado. para o ensimesmamento, face ao re­ceio de ser punido por qualquer coisa acontecida, mesmo quando não a houvesse praticado, assumin­do postura de vítima que se esforça para agradar sempre, estar permanentemente bem com todos, sem ser incomodado pelas ocorrências ou pelas criatu­ras.
Essa conduta também expressa alta dose de egoísmo, que se impõe fórmulas de vivência individu­alista, reacionária contra tudo quanto lhe parece am­biente hostil e de difícil penetração.
Não possuindo resistência psicológica para so­brepor-se à severidade doméstica, recua para a inte­riorização, dando asas à imaginação pessimista e per­turbada, naufragando no estado de inibição.
Outras vezes, a conduta insensível dos pais, es­pecialmente da mãe -com quem mais se convive no período infantil- fez o atual paciente sentir-se re­jeitado, transformado em incômodo que era para os genitores, como se a sua presença lhes constituísse um fardo, eliminando-o, pela indiferença, do grupo familiar.
Essa mesma ocorrência pode também originar-se no convívio com outros adultos e apresentar as suas primeiras marcas no relacionamento com ou­tras crianças que, incapazes de compreender a ocor­rência, criticam, expulsam dos seus folguedos, agri­dem todos aqueles que as desagradam... Ante essa reação dos companheiros de jogos e brincadeiras, agravam-se os conflitos, que se transformarão em conduta de inibição enfermiça.
O ser existencial, todavia, é, antes de quaisquer outras considerações, um Espírito imortal, herdeiro de todas as realizações que lhe assinalam a marcha ancestral.
Viajor de muitas experiências em roupagens car­nais diferentes e múltiplas, é o arquiteto de glórias e desaires através do comportamento ético-moral, social, religioso, político, artístico e de qualquer outra natureza, por cujas faixas transitou no curso da sua evolução.
Conforme se haja conduzido em uma etapa, transfere para a outra os conteúdos que lhe servirão de alicerce para a formação da personalidade. Por outro lado, o renascimento em lares afetuosos ou agressivos, gentis ou indiferentes, entre expressões de bondade ou de acusação, resulta das ações ante­riormente praticadas, que ora lhe cumpre reparar, caso hajam sido infelizes e prejudiciais, ou mais cres­cer, em razão dos procedimentos enobrecedores.
Assim, recuando à concepção fetal, encontra-se o ser pleno, indestrutível, herdeiro de si mesmo, tra­balhador incansável do próprio progresso, que lhe cumpre conquistar a esforço pessoal.
Assim considerando, os fatores hereditários e mesológicos, psíquicos e físicos, sociais e emocio­nais que o compõem estruturando-lhe a personali­dade, delineando-lhe a existência humana, têm as suas matrizes fixadas nas atividades desenvolvidas anteriormente.
Aluno da vida, promoção ou recapitulação, re­provação na classe em que estuda na valiosa escola terrestre, dependem exclusivamente do próprio em­penho.
Não obstante, o avanço do conhecimento, nas áreas da ciência e da tecnologia, muito tem contri­buído para minimizar e mesmo eliminar os fatores traumáticos das reencarnações anteriores, principal­mente em razão dos avanços das doutrinas psíqui­cas, descobrindo o ser transpessoal, viajor entusias­ta da imortalidade.
A valiosíssima contribuição de diferentes psico­terapias modernas constitui bênção para os trans­tornos psicológicos e psiquiátricos da mais variada ordem, não devendo permanecer esquecidos os fatores que desencadearam as ocorrências que prece­dem ao berço.
Desde o período perinatal, a partir da concep­ção, que os implementos do pretérito se insculpem no ser em formação, modelando-o conforme as ma­trizes que se lhe encontram no cerne espiritual.
Por outro lado, além das psicoterapias acadêmi­cas que auxiliam na libertação dos fenômenos de inibição, o interesse do paciente é de grande valia, mesmo durante o processo de reconquista da saúde.
Inicialmente deve ser estabelecido o veemente desejo de sentir-se bem, liberando-se da perturbado­ra sensação de permanente mal-estar a que está acos­tumado.
Para tanto, a substituição de pensamentos ne­gativos, autopunitivos, autodepreciativos, por outros de ordem emuladora ao progresso e à alegria, torna-se de vital importância. Logo depois, a consideração em torno de que todos se apresentam conforme lhes é possível, não lhe cabendo a vacuidade de colocar-se na posição de vítima, em que se compraz, tendo as outras pessoas como suas adversárias, com ou sem razão.
O problema conflitivo se encontra no indiví­duo e não no mundo exterior. Quando ele se harmo­niza, consegue enfrentar as mais hostis situações como sendo desafios que o incitam ao crescimento interior, ao amadurecimento psicológico, porque a existência humana, em verdade, não é como aprazeria a cada um, mas conforme a estrutura dos acon­tecimentos e dos impositivos da sociedade, na qual todos se encontram envolvidos.
Ainda aí, no processo de autoterapia, é essencial o desenvolvimento da tolerância para considerar as pessoas como seres em crescimento, com dificulda­des no trato consigo mesmas e não como criaturas especiais, eleitas, modelos, que devem constituir o melhor exemplo, embora a si se permita a justifica­tiva de manter-se recluso nas idéias e comportamen­tos esdrúxulos.
Cada indivíduo é um universo de emoções, de conquistas, de valores por descobrir, merecendo in­vestimentos de alto significado.
O desenvolvimento psicológico do ser humano é processo lento, que deve apresentar-se seguro, sem oscilações, vencendo as diferentes etapas e fixando-as no comportamento, a fim de que se estabeleçam novos patamares que devem ser conquistados.
Esse campo experimental, no qual a emoção se engrandece saudavelmente, é fértil em oportunida­des criativas e compensadoras, porquanto, a inevi­tável busca do prazer, da harmonia, se transformam em razões emuladoras para o sucesso.
AMOR, IMBATÍVEL AMOR DIVALDO PEREIRA FRANCO DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

TIMIDEZ


        Um relacionamento infantil insatisfatório com a família, particularmente em referência à própria mãe que se apresente castradora ou se torne super-protetora, ter­mina por impedir o desenvolvimento psicológico sau­dável do indivíduo, que estabelece um mecanismo de timidez a fim de preservar-se dos desafios que o sur­preendem a cada passo.
Submetido a uma situação constrangedora por impositivo materno, que não lhe permite espaço para autenticidade, sente-se castrado nas suas aspirações e necessidades, preferindo sofrer limitação a assu­mir atitudes que lhe podem causar mal-estar e aflições. Por outro lado, superprotegido, sente anulada a faculdade de discernimento e ação, toda vez que defronta uma situação que exige valor moral e cora­gem.
Refugiando-se na timidez, disfarça o orgulho e o medo de ser identificado na sua impossibilidade de agir com segurança, protegendo-se das incomodidades que, inevitavelmente, o surpreendem.
Como consequência, o desenvolvimento da libido faz-se incompleto, dando nascimento a limitações e re­ceios infundados quanto à própria atividade sexual, o que se pode transformar em conflito de maior profun­didade na área do relacionamento interpessoal, assim como na auto-realização.
A timidez pode apresentar-se como fenômeno psicológico normal, quando se trata de cuidado ante enfrentamentos que exigem ponderação, equilíbrio e decisão, dos quais resultarão comprometimentos graves no grupo social, familiar, empresarial, de qualquer ordem. Poder-se-ia mesmo classificá-la como um mecanismo de prudência, propiciador de reflexão necessária para a adoção de uma conduta correta.
Igualmente, diante de situações e pessoas novas, em ocorrências inesperadas que exigem uma rápida resposta, temperamentos existem que se precatam timidamente, sem que haja, de forma alguma, exteriori­zação patológica na conduta, tornando-se, portanto, normal.
Todavia, quando se caracteriza como um temor quase exagerado ante circunstâncias imprevistas, pro­duzindo sudorese, palpitação cardíaca, colapso perifé­rico das extremidades, torna-se patológica, exigindo conveniente terapia psicológica, a fim de ser erradica­da ou diluída a causalidade traumática, através de cujo método, e somente assim, advirá a superação do pro­blema.
O indivíduo tímido, de alguma forma, é portador de exacerbado orgulho que o leva à construção de com­portamento equivocado. Supõe, inconscientemente, que não se expondo, resguarda a sua realidade conflitiva, impedindo-se e aos outros impossibilitando uma iden­tificação profunda do seu Self.
Noutras vezes, subesti­ma-se e a tudo aquilo quanto poderia induzi-lo ao cres­cimento psicológico, à aprendizagem, a um bom rela­cionamento social, e torna-se um fardo, considerando que as interrogações que poderia propor, os contatos que deveria manter, não são importantes. Na sua ópti­ca psicológica distorcida, o que lhe diz respeito não é importante, tendo a impressão de que ninguém se inte­ressa por ele, que as suas questões são destituídas de valor, sendo ele próprio desinteressante e sem signifi­cado para o grupo social. A timidez oculta-o, fazendo­-o ausente, mesmo quando diante dos demais.
De certo modo, a timidez escamoteia temperamen­tos violentos, que não irrompem, produzindo distúrbi­os externos, porque se detêm represados, transforman­do-se em cólera surda contra as outras pessoas, às ve­zes contra si próprio.
É de considerar-se que essas são reações infantis, face ao não desenvolvimento e amadurecimento psico­lógicos.
Nesse quadro mais grave, o conflito procede de experiência pretérita, que teve curso em vida passada, quando o paciente se comprometeu moralmente e asfi­xiou, no silêncio íntimo, o drama existencial, que em­bora desconhecido das demais pessoas, se lhe gravou nos recessos do ser, transferindo-se de uma para outra reencarnação, como mecanismo de defesa em relação a tudo e a todos que lhe sejam estranhos.
No íntimo, o orgulho dos valores que se atribui e a presença da cul­pa insculpida no inconsciente geraram-lhe o clima de timidez em que se refugia, dessa forma precatando-se de ser acusado, o que lhe resultaria em grave problema para a personalidade.
A timidez é terrível algoz, por aprisionar a espon­taneidade, que impede o paciente de viver em liberda­de, de exteriorizar-se de maneira natural, de enfrentar dificuldades com harmonia interna, compreendendo que toda situação desafiadora exige reflexão e cuida­do. Uma vida saudável caracteriza-se também pela ocorrência de receios, quando se apresentam proble­mas que merecem especial atenção.
Como todos desejam alcançar suas metas, que são o sentido existencial a que se afervoram, a maneira cui­dadosa e tímida, não agressiva nem precipitada, expres­sa oportuno mecanismo de preservação da intimidade, da realidade, do processo de evolução.
A ausência da timidez não significa presença de saúde psicológica plena, porque, não raro, outros algo­zes do comportamento desenham situações também críticas, que necessitam ser orientadas corretamente.
Nesse sentido, a extroversão ruidosa, a comunica­bilidade excessiva, constituem fenômeno perturbador para o paciente que pretende, dessa maneira, ocultar os seus sentimentos conflitivos, desviando a atenção da sua realidade para a aparência, ao mesmo tempo diluindo a necessidade de valorização, por saber-se conhecido, desejado, face ao comportamento irrequie­to que agrada ao grupo social com o qual convive.
Realizando-se, por sentir-se importante, descarre­ga os medos na exteriorização de uma alegria e joviali­dade que não são autênticas.
Observando-se tal conduta, logo se perceberá uma grande excitação e preocupação em agradar, em cha­mar a atenção, em tornar-se o centro de interesse de todos, dificultando a comunicação natural do grupo. Esse tipo de exibicionismo é pernicioso, porque o paci­ente distrai os outros e continua em tensão permanen­te, o que se lhe torna um estado normal, no entanto, enfermiço.
A timidez pode ser trabalhada também, mediante uma auto-análise honesta, de forma que o paciente deva considerar-se alguém igual aos outros, como realmen­te é, nem melhor, nem pior, apenas diferente pela es­trutura da personalidade, pelos fatores sociais, econô­micos, familiares, com os quais conviveu e que o modelaram.
Ademais, deve ter em vista que é credor de respeito e de carinho como todas as outras pessoas, que tem valores, talvez ainda não expressados, merecendo, por isso mesmo, fruir dos direitos que a vida lhe conce­de e lhe cumpre defender.
Toda fuga leva a lugar nenhum, especialmente no campo emocional. Somente um enfrentamento saudá­vel com o desafio pode libertar do compromisso, ao invés de transferi-lo para outra ocasião, em que lhe se­rão acrescidos os inevitáveis juros, que resultam do adiamento, quando, então, as circunstâncias serão diferentes e já terão ocorrido significativas alterações.
Uma preocupação que deve vicejar no íntimo de todos os indivíduos, tímidos ou não, é que não se deve considerar sem importância ou tão significativo que lhe notarão a presença ou a ausência.
Assim, uma conduta tranquila, caracterizada pela autoconfiança e naturalidade nas várias situações pro­porciona bem-estar e conquista da espontaneidade.
AMOR, IMBATÍVEL AMOR DIVALDO PEREIRA FRANCO DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

ALGOZES PSICOLÓGICOS


        O processo da evolução antropo-sociológica do ser humano não se fez acompanhar pelo desenvolvi­mento psicológico, que deveria, pelo contrário, pre­cedê-lo.
        Sendo um ser essencialmente constituído pela ener­gia pensante, ela teria predominância no comportamen­to, imprimindo suas necessidades mais vigorosas, que se transfeririam para o cérebro, por ela modelado, pas­sando a conduzir a maquinaria física, como consequ­ência das suas expressões psicológicas. Não obstante, em razão da sua estrutura original, simples, destituída de complexidades, esse desabrochar de valores torna-­se lento, fixando cada conquista, de forma que a próxi­ma se apoie na anterior que lhe passa a constituir ali­cerce psíquico.
        Os sentimentos, por isso mesmo, surgem, a pouco e pouco, arrebentando a concha na qual se aprisionam em latência, apresentando-se como impulsos e tendências que se comportarão no futuro como hábitos estru­turados, formadores de novos campos vibratórios a se tornarem ação.
O desconhecimento de determinadas experiências inibem-no psicologicamente, permitindo que verdadei­ros algozes psicológicos tomem campo no comporta­mento, que se transformam em conflitos perturbado­res, inibidores, trabalhando para a formação de exis­tências fragmentadas.
Às vezes se apresentam difíceis de remoção imedi­ata, exigindo terapia demorada e grande esforço do seu portador, caso esteja realmente interessado na conquis­ta da saúde emocional.
Ao invés de assim agir, pelo contrário, o indivíduo refugia-se na distância, evitando compromissos sociais e emocionais que acredita não saber administrar, tor­nando a situação mais complexa na razão direta em que evita os contatos saudáveis, que podem arrancá-lo da situação alienante.
Desequipado de coragem e de estímulos para ven­cer-se e superar os algozes, mais se aflige, reflexionan­do negativamente, e deixando-se embalar pelas mórbi­das idéias da autocomiseração ou da revolta, da auto-punição ou do pessimismo, que passam a constituir-lhe companheiros constantes da conduta interior, que externa como amargura, insegurança, mal-estar.
Os mecanismos da evolução constituem força pro­pulsionadora do desenvolvimento dos germes que dor­mem em latência, aguardando os fatores propiciatóri­os ao seu desempenho.
A princípio, de forma incipiente, depois com mais vigor, por fim, com espontaneidade, que se torna ca­racterística da personalidade, abrindo mais espaços para a aquisição dos valores mais elevados da inteli­gência e do sentimento.
Para a eficiência do afã deve ser empreendida uma bem direcionada luta interior, firmada em propósitos de relevância em relação ao futuro, e de superação das marcas do passado.
A constituição de cada indivíduo mantém os sinais de todo o processo de crescimento, tal como ocorre com todos os seres em a Natureza.
Na botânica, a cor das folhas e flores, o sabor dos frutos, mesmo que da mesma espécie, expressam as características do solo no qual se encontram. O mesmo ocorre entre os animais, que são resultado das condi­ções climáticas e ambientais, da alimentação e do trata­mento que recebem, variando de expressões conforme os lugares onde se movimentam.
Muitos caracteres psicológicos têm a ver com os fatores mesológicos e suas implicações na conduta.
Assim, os algozes psicológicos que afetam a um expressivo número de pessoas, aguardam decisão e aju­da para arrebentarem as suas amarras retentivas, que impedem a plenificação da criatura.
AMOR, IMBATÍVEL AMOR DIVALDO PEREIRA FRANCO DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

AUTO-AFIRMAÇÃO


As raízes da auto-afirmação do indivíduo encon­tram-se na sua infância, quando os movimentos automáticos do corpo são substituídos pelas palavras, par­ticularmente quando é usada a negativa. Ao recusar qualquer coisa, mediante gestos, a criança demonstra que ainda não se instalaram os pródromos da sua identidade. No entanto, a recusa verbal, peremptória, a qual­quer coisa, mesmo àquelas que são agradáveis, deno­tam que está sendo elaborada a auto-afirmação, que decorre da capacidade de escolha daquilo que interes­sa, ou simplesmente se trata de uma forma utilizada para chamar a atenção para a sua existência, para a sua realidade.
Trata-se de um senso de identificação infantil, sem dúvida, no qual a criança, ainda incapaz de discernir e entender, procura conseguir o espaço que lhe pertence, dessa maneira informando que já exis­te, que solicita e merece reconhecimento por parte das demais pessoas que a cercam.
Quando a criança concorda, afirmando a aceita­ção de algo, age apenas mecanicamente e por ins­tinto, enquanto que se utilizando da negativa, tam­bém denominada conceito do não, dá início à desco­berta do senso de si mesma, do seu Self, passando, a partir desse momento, a exteriorizá-lo, afirmando o NÃO, mesmo quando sem necessidade de fazê-lo. É a sua maneira de auto-identificação que, não raro, parece estranha aos adultos menos conhecedores dos mecanismos da mente infantil.
Quando ocorre a inibição da negativa -o que é muito comum- esse fenômeno dará surgimento a alguém que, no futuro, não saberá exatamente o que deseja da vida, experimentando uma existência sem objetivo, que o leva a ser indiferente a quaisquer resultados, e, por cuja razão, evita expressar-se negativamente, deixando-se arrastar indiferente aos acontecimentos, assim desvelando o estado íntimo de inibição, de timidez e de recusa de si mesmo. Com o tempo essa situação se agrava, levando-o a um estado de amorfia psicológica.
O Self, por sua vez, se estrutura e se fixa atra­vés do sentimento, e quando este se encontra confu­so, sem delineamento, a auto-afirmação se enfraque­ce e a capacidade de dizer NÃO perde a sua força, o seu sentido.
A auto-afirmação se expressa especialmente no desejo de algo, mediante duas atitudes que, parado­xalmente se opõem: o que se deseja e o que se rejei­ta.
Em um desenvolvimento saudável da personali­dade, sabe-se o que se quer e como consegui-lo, o que se torna decorrência inevitável da capacidade de escolha. Quando tal não ocorre, há surgimento de uma expressão esquizóide, na qual o paciente foge para atitudes de submissão receosa e de revolta in­terior. Silencia e afasta-se do grupo social que passa a ser visto com hostilidade, por haver-se negado a penetrá-lo, alegando, no entanto, que foi barrado... A sua óptica distorcida da realidade, trabalha em favor de mecanismos de transferência de culpa e de responsabilidade.
Mediante essa conduta, o enfermo se nega a li­beração dos conflitos, mantendo-se em atitude cer­rada, por falta do senso de auto-afirmação. O seu é o conceito falso de que não é bem vindo ao grupo que ele acredita não o aceitar, quando, em verdade, é ele quem o evita e se afasta do mesmo.
À medida que vão sendo liberados os sentimentos perturbadores e negativos que se encontram em repressão, os desejos de afetividade, de expressão, de harmonia, manifestam-se, direcionando-o para va­liosas conquistas.
Com o desenvolvimento da capacidade de jul­gar valores, surgem as oportunidades de auto-afir­mação, face à necessidade de escolhas acertadas, a fim de atender aos desejos de progresso, de cresci­mento ético-moral e de realização interior.
Por meio de exercícios mentais, nos quais se encontrem presentes as aspirações elevadas e de eno­brecimento, bem como através de movimentos res­piratórios e físicos outros, para liberar o corpo da couraça dos conflitos que o tornam rígido, a auto-afirmação se fixa, propiciando um bom relaxamen­to, que se faz compatível com o bem-estar que se deseja.
Com o desenvolvimento intelecto-moral da crian­ça, passando pela adolescência e firmando os propósi­tos de autoconquista, mais bem delineadas surgem as linhas de segurança da personalidade que enfrenta os desafios com tranquilidade e esperanças renovadas.
Nesse particular, a vontade desempenha impor­tante papel, trabalhando em favor de conquistas in­cessantes, que contribuem para o amadurecimento psicológico, característica vigorosa da saúde mental e moral.
Em cada vitória alcançada através da vontade que se faz firme cada vez mais, o ser encontra estímulos para novos combates, ascendendo interiormente e afir­mando-se como conquistador que se não contenta em estacionar nos primeiros patamares defrontados duran­te a escalada de ascensão. Desejando as alturas, não interrompe a marcha, prosseguindo impertérrito no rumo das cumeadas.
Esta é a finalidade precípua do desenvolvimento emocional, estabelecendo diretrizes que definam a rea­lidade do ser, que se afirma mediante esforço próprio. Em tal cometimento, não podem ficar esquecidos o con­tributo dos pais, da família, da sociedade, e as possibi­lidades inatas, que remanescem do seu passado espiritual.
Estando, na Terra, o Espírito, para aprender, repa­rar e evoluir, nele permanecem as matrizes da conduta anterior, facultando-lhe possibilidades de triunfo ou impondo-lhe naturais empecilhos que lhe cumpre su­perar.
Quando a auto-afirmação não se estabelece, apre­sentando indivíduos psicologicamente dissociados da própria realidade, tem-se a medida dos seus compro­missos anteriores fracassados e da concessão que a Vida lhe propicia por segunda vez para regularizá-los.
Cumpre, portanto, ao psicoterapeuta, o desenvol­vimento de uma visão profunda do Self, de forma es­pecial, em relação ao ser eterno que transita no corpo em marcha evolutiva.
Somente assim, se poderá entender racionalmente o porquê de determinados indivíduos iniciarem a auto-afirmação nos primeiros meses da infância, enquanto outros já se apresentam fanados, incapazes de lutar em favor da sua realidade, no meio onde passará a experi­enciar a vida.
A sociedade marcha inexoravelmente para a com­preensão do Espírito eterno que o homem é, do seu pro­cesso paulatino de evolução através dos renascimen­tos, herdeiro de si mesmo, que transfere de uma para outra etapa as realizações efetuadas, felizes ou equivo­cadas, qual aluno que soma experiências educacionais, promovendo-se ou retendo-se na repetição das lições não gravadas, com vistas à conclusão do curso.
A Terra assume sua condição de escola que é, tra­balhando os educandos que nela se encontram e propi­ciando-lhes iguais oportunidades de evolução e de paz.
AMOR, IMBATÍVEL AMOR DIVALDO PEREIRA FRANCO DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS