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sábado, 17 de setembro de 2011

A BUSCA DA REALIZAÇÃO



A infância, construtora da vida psicológica do ser humano, deve ser experienciada com amor e em clima de harmonia, a fim de modelá-lo para todos os futuros dias da jornada terrestre.
Os sinais das vivências insculpem-se no inconsci­ente com vigor, passando a escrever páginas que não se apagam, quase sempre revivendo os episódios que desencadeiam os comportamentos nos vários períodos por onde transita.
Quando são agradáveis as impres­sões decorrentes dos momentos felizes, passam a fazer parte da auto-realização, contribuindo poderosamente para o despertar do Si profundo, que vence as barrei­ras impeditivas colocadas pelo ego. Se negativas, per­turbam o desenvolvimento dos valores éticos e comportamentais, gerando patologias psicológicas avassa­ladoras, que se expressam mediante um ego domina­dor, violento, agressivo, ou débil, pusilânime, dúbio, pessimista, depressivo.
Essas marcas são quase que impossíveis de ser apa­gadas do inconsciente atual, qual aconteceria com a mossa provocada por uma pressão ou golpe sob super­fície delicada que, por mais corrigida, sempre perma­nece, mesmo que pouco perceptível.
A busca da realização pessoal deve iniciar-se na auto-superação, mediante vigorosa auto-análise das necessidades reais relacionadas com as aparentes, aque­las que são dominadoras no ego e não têm valor real, quase nunca ultrapassando exigências e caprichos da imaturidade psicológica.
Para o cometimento, são necessárias as progressi­vas regressões aos diferentes períodos vividos da ju­ventude e da infância, até mesmo à fase de recém-nas­cido, quando o Self verdadeiro foi substituído pelo ego artificial e dominador. Foi nessa fase que a inocência infantil foi substituída pelo sentimento de culpa, em razão da natural imposição dos pais, no lar, e, por extensão dos adultos em geral em toda parte.
Mais tarde, identificando-se errada, em razão de não haver conseguido modificar os pais, nem vencer a teimosia dos adultos, mascara-se de feliz, de virtuosa, perdendo a integridade interior, a pureza, aprendendo a parecer o que a todos agrada ao invés de ser aquilo que realmen­te é no seu mundo interior.
Esse trabalho de progressão regressiva que se pode lograr mediante conveniente terapia é muito doloroso, porque o paciente se recusa inconscientemente a acei­tar os erros, como forma de defesa do ego e, por outro lado, por medo do enfrentamento com todos esses me­dos aparentemente adormecidos.
O seu despertar as­susta, porque conduz a novas vivências desagradáveis. O ego, no seu castelo, conseguiu mecanismos de defe­sa e domina soberano, reprimindo os sentimentos e disfarçando os conflitos, porquanto sabe que a liberação desses estados interiores pode levar à agressividade ou ao mergulho nas fugas espetaculares da depressão.
Todos os indivíduos, de alguma forma, sentem-se desamparados em relação aos fatores que regem a vida: os fenômenos do automatismo fisiológico, o medo da doença insuspeita, da morte, do desaparecimento de pessoas queridas, as incertezas do destino, os fatores mesológicos, como tempestades, terremotos, erupções vulcânicas, acidentes, guerras... De algum modo, essa sensação de insegurança, de desamparo provém da in­fância -ou de outras existências-, quando se sentiu dominado, sem opção, sujeito aos impositivos que lhe eram apresentados, fazendo que o amor fosse retirado do cardápio existencial.
Tal sentimento contribui para a análise do proble­ma da sobrevivência, que é o mais importante, ainda não solucionado no inconsciente.
Eis porque é necessário liberar esses conflitos per­turbadores, reprimidos, para que a criança inocente, pura, no sentido psicológico, bem se depreende, volte a viver integralmente.
Inicia-se, então, o maravilhoso processo de tera­pia para a busca da realização. Sob o controle do tera­peuta, esse direcionamento se orienta para a criativi­dade, através da qual o paciente expressa um tipo de sentimento mas vive noutra situação.
Essas emoções antagônicas devem ser trabalhadas pelo técnico, para depois serem vividas pelo indivíduo, que passa a permitir que tudo aconteça naturalmente sem novas pres­sões, nem castrações, nem dissimulações. Passa a eli­minar a raiva reprimida, que é direcionada contra ob­jetos mortos, sem caráter destrutivo; a angústia pode expressar-se, porque sabe estar sob assistência e contar com alguém que ouve e entende o conflito.
Posteriormente, o paciente se transforma no seu próprio terapeuta, no dia-a-dia, por ser quem controlará os sentimentos desordenados e mediante a criativi­dade, começa a substituir o que sente no momento pelo que gostaria de conquistar, transferindo-se de patamar mental-emocional até alcançar a realização pessoal.
Nesse processo, surgem a liberação das tensões musculares, a identificação com o corpo no qual se movimenta e que passa a exercer conscientemente uma função de grande importância no seu comportamento, movendo-se de forma adequada.
A seguir, identifica a necessidade de experimentar prazeres, sem a consciência de culpa que as religiões ortodoxas castradoras lhe impuseram, transferindo-se das províncias da dor -como necessidade de sublima­ção- para o prazer agradável, renovador, que não sub­juga nem produz ansiedade. O simples fato de reconhecer a necessidade que tem de experimentar o pra­zer sem culpa, auxilia-o no amor ao corpo, na movi­mentação dos músculos, eliminando as tensões físicas, derivadas daqueloutras de natureza emocional, assim aprendendo a viver integralmente, a conquistar a reali­zação pessoal.
É indispensável também aceitar-se, compreender que os seus sentimentos são resultado das aquisições intelecto-morais do processo evolutivo no qual se en­contra situado. Sem a perfeita compreensão-aceitação dos próprios sentimentos, é muito difícil, senão impro­vável, a conquista da realização.
Naturalmente terá que se empenhar para superar os sentimentos depressivos, excessivamente emotivos e perturbadores ou indiferen­tes e frios, de forma que a valorização de si mesmo faça parte do seu esquema de crescimento interior, o que lhe facultará alcançar as metas estabelecidas.
Por outro lado, a identificação da própria fragilidade leva-o a uma atitude de humildade perante a vida e a si mesmo, porque percebe que o ser psicológico está profundamente vinculado ao fisiológico e vice-versa. Misturam-se a funções em determinado momento de consciência, quando percebe que algumas tensões mus­culares e diversas dores físicas são consequência da­quelas de natureza psicológica, ou por sua vez, estas últimas têm muito a ver com a couraça que restringe os movimentos e os entorpece.
De fundamental importância também a constata­ção e a aceitação da necessidade da humildade, que o ajuda a descobrir-se sem qualquer presunção nem medo dos desafios, enfrentando os fatores existenciais com naturalidade e autoconfiança, não extrapolando o pró­prio valor nem o subestimando.
Essa humildade dar-lhe-á forças para ampliar o quadro de relacionamento interpessoal, de auxiliar na fraternidade, percebendo que a sua individualidade não pode viver plena sem a comunidade de que faz parte e deve trabalhá-la para auxiliá-la no seu progresso.
Com a humildade, o indivíduo descobre-se crian­ça, e essa verificação representa conquista de maturi­dade psicológica, que lhe faculta liberar esses sentimen­tos pertencentes ao período mágico da infância.
Jesus, na sua condição de Psicoterapeuta por exce­lência, demonstrou que era necessário volver a essa fase de pureza, de dependência, no bom sentido, de humil­dade, quando enunciou, peremptório: ... Se não vos fi­zerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Quem, pois, se tomar humilde como uma criança, esse será maior no reino dos céus.
O enunciado, do ponto de vista psicológico, apela para a auto-realização, a penetração no reino dos céus da consciência reta e sem mácula, assinalada pelos ide­ais de dignificação humana.
A criança é curiosa, espontânea, alegre, sem aridez, rica de esperanças, motivadora, razão de outras vidas que nas suas existências se enriquecem e encontram sentido para viver.
A busca da realização conduz o indivíduo ao cres­cimento moral e espiritual sem culpa ante as imposi­ções da organização fisiológica, que lhe propõe o pra­zer para a própria sobrevivência e faz parte ativa da realidade social que deve constituir motivo de estímu­lo para a vitória sobre o egoísmo e as paixões perturba­doras.
AMOR, IMBATÍVEL AMOR DIVALDO PEREIRA FRANCO DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

DUALIDADE DO BEM E DO MAL




Um velho koan Zen-Budista narra que um homem muito avarento recebeu, oportunamente, a visita de um mestre.
O sábio, depois de saudá-lo, perguntou-lhe: -Se eu fechar a minha mão para sempre, não a abrindo nun­ca, como te parecerá?
o avaro respondeu-lhe sem titubear: - Deforma­da.
Muito bem, prosseguiu o interlocutor: - E se eu a abrir para sempre, como a verás?
- Igualmente deformada - redarguiu, o anfitrião.
O homem nobre concluiu, informando-o: - Se en­tenderes isso, serás um rico feliz.
Depois que se foi, o anfitrião começou a meditar e, a partir daí, passou a repartir com os necessitados, aqui­lo que lhe parecia excedente, tornando-se generoso.
Todos os opostos, afirma o antigo koan, bem e mal, ter e não ter, ganhar e perder, eu e os outros, dividem a mente. Quando são aceitos, afastam as pessoas da mente original, sucumbindo ao dualismo.
A sabedoria, concluiu a narração sintética, está no meio, no Zen, que é o caminho.
A dualidade sempre esteve presente no ser huma­no, desde o momento em que ele começou a pensar, desenvolvendo a capacidade de discernir. Os opostos têm-lhe constituído desafios para a consciência, que deve eleger o que lhe é melhor, em detrimento daquilo que lhe é pernicioso, perturbador, gerador de conflitos.
Não poucas vezes, por imaturidade, toma decisões compulsivas e derrapa em estados de perturbação, demarcando fronteiras e evitando atravessá-las, assim perdendo contato com as possibilidades existentes em ambos os lados, que podem auxiliar na definição de rumos. Essa definição, no entanto, não pode ser cercea­dora das vivências educativas, produtoras. Devem caracterizar-se pela eleição natural do roteiro a seguir, de maneira que nenhuma forma de tormento pelo não ex­perimentado passe a gerar frustração.
A experiência ensina a conquistar os valores legíti­mos, aqueles que propiciam a evolução, facultando, na análise dos contrários, a opção pelo que constitui estí­mulo ao crescimento, sem que gere danos para o pró­prio indivíduo, para o meio onde se encontra, para ou­trem. Somente assim, é possível a aquisição do com­portamento ideal, propiciador de paz, porque não traz, no seu bojo, qualquer proposta conflitiva.
Do ponto de vista ético, definem os dicionaristas, o bem é a qualidade atribuida a ações e a obras huma­nas que lhes confere um caráter moral. Esta qualida­de se anuncia através de fatores subjetivos -o senti­mento de aprovação, o sentimento de dever- que le­vam à busca e à definição de um fundamento que os possa explicar.
O mal é tudo aquilo que se apresenta negativo e de feição perniciosa, que deixa marcas perturbadoras e afligentes.
Na sua origem, o ser não possui a consciência do bem nem do mal. Vivendo sob a injunção do instinto, é levado a preservar a sobrevivência, a reprodução, atu­ando por automatismos, que irão abrindo-lhe espaços para os diferenciados patamares do conhecimento, do pensamento, da faculdade de discernir.
A seleção do que deve em relação ao que não deve realizar dá-se mediante a sensação da dor física, depois emocional, mais tarde de caráter moral, ascendendo na escala dos valores éticos. Percebe que nem tudo quanto lhe é lícito executar, pode fazê-lo, assim realizando o que lhe é de melhor, no sentido de descobrir os resulta­dos, porquanto aquilo que lhe é facultado, não poucas vezes fere os direitos do próximo, da vida em si mes­ma, quanto da sua realidade espiritual.
Essa percepção torna-se a presença da capacidade de eleger o bem em detrimento do mal. Faz-se a reali­dade livre da sombra; o avanço psicológico sem trau­ma, a ausência de retentivas na retaguarda.
Embora haja o bem social, o de natureza legal, aquele que muda de conceito conforme os valores éticos estabelecidos geográfica ou genericamente, pai­ra, soberano, o Bem transcendental, que o tempo não altera, as situações políticas não modificam, as cir­cunstâncias não confundem. É aquele que está ins­crito na consciência de todos os seres pensantes que, não obstante, muitas vezes, anestesiem-no, perma­nece e se impõe oportunamente, convidando o in­frator à recomposição do equilíbrio, ao refazimento da ação.
O mal, remanescente dos instintos agressivos, pre­domina enquanto a razão deles não se liberta, sob a dominação arbitrária do ego, que elabora interesses hedonistas, pessoais, impondo-se em detrimento de todas as demais pessoas e circunstâncias.
O seu ferrete é tão especial que, à medida que fere quantos se lhe acercam, termina por dilacerar aquele que se lhe entrega ao domínio, tombando, exaurido, pelo caminho do seu falso triunfo.
O ser humano foi criado à imagem de Deus, isto é, fadado à perfeição, superando os impositivos do trânsito evolutivo, nessa marcha inexorável a que se encon­tra compelido.
Possuindo os atributos da beleza, da harmonia, da felicidade, do amor, deve romper, a pouco e pouco, a casca que o envolve -herança do período primário por onde tem que passar- a fim de desenvolver as apti­dões adormecidas, que lhe servem temporariamente de obstáculo a esses tesouros imarcescíveis.
O Bem pode ser personificado no amor, enquanto o mal pode ser apresentado como sendo-lhe a ausên­cia.
Tudo aquilo que promove e eleva o ser, aumentan­do-lhe a capacidade de viver em harmonia com a vida, prolongá-la, torná-la edificante, é expressão do Bem. Entretanto, tudo quanto conspira contra a sua eleva­ção, o seu crescimento e os valores éticos já logrados pela Humanidade, é o mal.
O mal, todavia, é de duração efêmera, porque re­sultado de uma etapa do processo evolutivo, enquanto o Bem é a fatalidade última reservada a todos os indi­víduos, que se não poderão furtar desse destino, mes­mo quando o posterguem por algum tempo, jamais o conseguindo definitivamente.
Eis porque o ser tem a tendência inevitável de bus­car o amor, de entregar-se-lhe, de fruí-lo.
Encarcerado no egoísmo e acostumado às buscas externas, recorre aos expedientes do prazer pessoal, em vãs tentativas de desfrutar as benesses que dele decorrem, tombando na exaustão dos sentidos ou na frustração dos engodos que se permite.
Oportunamente um aprendiz indagou ao seu mes­tre: - Dize-nos o que é o amor.
- E o sábio, após ligeira reflexão, redarguiu com um sorriso:
- Nós somos o amor.
Esse sentimento que temos todos os seres viventes expressa o Supremo Bem, que nos cumpre buscar, em­bora estejamos na faixa da libertação da ignorância, errando, ainda praticando o mal temporário por falta da experiência evolutiva, que nos junge às sensações, em detrimento das emoções superiores que alcançaremos.
Há uma tendência para a experiência do Bem, face à paz e à beleza interior que se experimenta, constitu­indo-se um grande desafio ao pensamento psicológico estabelecer realmente o que é de melhor para o ser hu­mano, graças aos impositivos dos instintos que prome­tem gozo, enquanto que a sua libertação, às vezes dolorosa, em catarse de lágrimas, proporciona em plenitude.
A terapia do Bem -essa eleição dos valores éticos que propiciam paz de consciência- constitui proposta excelente para a área da saúde emocional e psíquica, consequentemente, também física dos seres humanos, que não deve ser desconsiderada.
A medida que se amplia o desenvolvimento psico­lógico, seu amadurecimento, são eliminadas as distân­cias entre o eu e os outros, superando o mal pelo bem natural, suas ações de fraternidade e de compreensão dos diferentes níveis de transição moral, compreenden­do-se que o mal que a muitos aflige, por eles mesmos buscado, transforma-se na sua lição de vida.
Eis porque é necessária a terapia da realização edi­ficante, produzindo sempre em favor de si mesmo, do próximo e do meio ambiente, evitando qualquer tentativa de destruição, de perturbação, de desequilíbrio.
Por isso, não realizar o bem é fazer-se a si mesmo um grande mal. Dificultar-se a ascensão, é forma de comprazer-se na vulgaridade, na desdita, assumindo um comportamento masoquista, no qual se sente valo­rizado.
Certamente, nem todos os indivíduos conseguem de imediato uma mudança de conduta mental, por­tanto, emocional, da patologia em que se encarcera, para viver a liberdade de ser feliz. Isso exige um esforço her­cúleo que, normalmente, o paciente não envida. Acre­dita que a simples assistência psicológica irá resolver-lhe os estados interiores que o agradam, quase que a passo de mágica, transferindo para o psicoterapeuta a tarefa que lhe compete desenvolver.
Para esse cometimento, o do reequilíbrio, a assis­tência especializada é indispensável, somada à contri­buição de um grupo de apoio e ao interesse dele pró­prio para conseguir a meta a que se propõe.
A religião bem orientada, pelo conteúdo psicológi­co de que se reveste, desempenha um papel de alta re­levância em favor do equilíbrio de cada pessoa e, por extensão, do conjunto social, no qual se encontra loca­lizada.
A religião que se fundamenta, no entanto, na con­duta científica de comprovação dos seus ensinamen­tos, que documenta a realidade do Espírito imortal e a sua transitoriedade nos acontecimentos do corpo, como é o caso do Espiritismo, melhores condições possui para auxiliá-la na escolha do caminho a trilhar com os pró­prios pés, propondo-lhe renovação interior e adesão natural aos princípios que promovem a vida, que a dig­nificam, portanto, que representam o Bem.
Por outro lado, proporciona-lhe uma conduta res­ponsável, esclarecendo-a que cada qual é responsável pelos atos que executa, sendo semeadora e colhedora de resultados, cabendo-lhe sempre enfrentar os desafi­os de superar-se, porque toda conquista valiosa é re­sultado do esforço daquele que a consegue. Nada exis­te que não haja sido resultado de laborioso esforço.
Ainda mais, faculta-lhe o entendimento de como funcionam as Leis da Vida, em cuja vigência todos os seres somos participantes, sem exceção, cada qual res­pondendo de acordo com o seu nível de consciência, o seu grau de pensamento, as suas intenções intelecto-morais.
Abre, ademais, um elenco de novas informações que a capacitam para a luta em prol da saúde, expli­cando-lhe que existe um intercâmbio mental e espiritu­al entre as criaturas que habitam os dois planos do mundo: o espiritual ou da energia pensante e o físico ou da condensação material.
A morte do corpo, não extinguindo o ser, apenas altera-lhe a compleição molecular, mantendo-lhe, não obstante, os valores intrínsecos à sua individualidade, o que faculta, muitas vezes, o intercâmbio psíquico.
Quando se trata de alguém cuja existência foi pau­tada em ações elevadas, a influência é agradável, rica de saúde e de harmonia. Quando, porém, foi negativa, inquieta ou doentia, perturbada ou insatisfeita, trans­mite desarmonia, enfermidades, depressões e alucina­ções cruéis, que passam a constituir psicopatologias de classificação muito complexa, na área das obsessões espirituais e de libertação demorada, que exigem mui­to esforço e tenacidade nos propósitos em favor da re­cuperação da saúde.
O Bem, portanto, é o grande antídoto a esse mal, como o é também para quaisquer outros estados per­turbadores e traumáticos da personalidade humana.
Outrossim, a experiência do Bem se dará plena após o trânsito pelas ocorrências do Mal, os insucessos, as perturbações, as reações emocionais conflitivas, que facultam o natural selecionar dos comportamentos agra­dáveis, tranquilos, que validam o esforço de haver-se optado pelo que é saudável. Caso contrário, a aquisição positiva não se faz total, porque será mais o resul­tado de repressão aos instintos do que superação de­les, graças ao que se pode adquirir virtudes -sentimen­tos bons, conquistas do Bem-, no entanto, perder-se a integridade, a naturalidade do processo de elevação. A pessoa torna-se frustrada por não haver enfrentado as lutas convencionais, evitando-as, ocasionando um sen­timento de culpa, que é, por sua vez, uma oposição à proposta encetada para a vida correta.
A experiência do Bem e do Mal começa na infância diante das atitudes dos pais e dos demais familiares. Por temor a criança obedece, porém, não compreende o que é certo e aquilo que é errado, que lhe querem incutir os genitores, muitas vezes por imposição sem o esclarecimento correspondente para a análise lenta e à assimilação da razão.
Se a criança não consegue entender aquilo que lhe é ministrado e exigido, passa a aceitar a informação por medo de punição, até o momento em que se liberta da imposição, transformando o sentimento em culpa, e temendo reagir pelo ódio ou pelo ressentimento, ou, noutras situações, reprimindo-se, tomba na depressão. O inconsciente, utilizando-se do mecanismo de preservação do ego, resolve aceitar o que foi ministrado, passando a insuflar a conduta reta, no entanto, em forma de máscara que oculta a realidade reprimida.
A conquista paulatina do Bem produz equilíbrio e segurança, eliminando as armadilhas do ego, que mais tem interesse em promover-se do que em ser substituí­do pelo valor novo, inabitual no seu comportamento.
Por isso mesmo, o Bem não pode ser repressor, o que é mal, porém, libertador de tudo quanto submete, se impõe, aflige. A sua dominação é suave, não constri­tora, porque passa a ser uma diferente expressão de conduta moral e emocional, dando prosseguimento à assimilação dos valores que foram propostos no perío­do infantil, e que constituem reminiscências agradáveis que ajudam nos procedimentos dos diferentes perío­dos existenciais, na juventude, na idade adulta, na ve­lhice.
Em razão disso, torna-se mais difícil a assimilação e incorporação dos valores do Bem em um adulto acli­matado à agressão, às lutas, nas quais predominou o Mal, houve a sua vitória, os resultados prazerosos do ego, a vitalização dos comportamentos esmagadores, que geraram heróis e poderosos, mas que não escapa­ram das áreas dos conflitos por onde continuam transi­tando.
Somente através da renovação de valores desde cedo é que o Bem triunfará nas criaturas.
Quando adultas, o labor é mais demorado, porque terá que substituir as constrições do ego e, através da reflexão, dos exercícios de meditação e avaliação da conduta, substituir os hábitos enraizados por novos comportamentos compensadores para o eu superior.
Eis porque se pode afirmar que o Bem faz muito bem, enquanto que o Mal faz muito mal. A simples mudança, portanto, de atitude mental do indivíduo en­seja-lhe o encontro com o Bem que irá desenvolver-lhe os sentimentos profundos da sua semelhança com Deus.
AMOR, IMBATÍVEL AMOR DIVALDO PEREIRA FRANCO DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O EU E A ILUSÃO




        A trajetória de predominância do ego no ser é lar­ga. A descoberta do eu profundo, do ser real, da indivi­duação é, por consequência, mais difícil, mais sacrificial, exigindo todo o empenho e dedicação para ser lo­grada.
Vivendo em um mundo físico, no qual a ilusão da forma confunde a realidade, o que parece tem predo­mínio sobre o que é, o visível e o temporal dominam os sentidos, em detrimento do não visível e do atemporal, jungindo o ser à projeção, com prejuízo para o que é real, e é compreensível que haja engano na eleição do total em detrimento do incompleto.
Esse conflito -parecer e ser- responde pelos equívocos existenciais, que dão preferência ao que fere os sentidos, substituindo as emoções da alma, além das estruturas orgânicas.
Estabelece-se, então, a prevalência da ilusão derivada do sensorial que a tudo comanda, no campo das formas, desempenhan­do finalidade dominante em quase todos os aspe­ctos da vida.
Submerso no oceano da matéria o ser profundo -o eu- encontrando-se em período de imaturidade psico­lógica, deixa-se conduzir pelo exterior, supondo-se di­ante da realidade, sem dar-se conta da mobilidade e estrutura de todas as coisas, na sua constituição mole­cular.
O campo das formas responde pela ilusão dos sen­tidos, que se prolongam pelos delicados equipamentos emocionais, dando curso a aspirações, desejos e com­portamentos.
A ilusão, no entanto, é efêmera, quanto tudo que se expressa de maneira temporal. A própria fugacida­de do tempo, como medida representativa e dimensio­nal da experiência física, traí o ser psicológico, cujo es­paço ilimitado necessita de outro parâmetro ou coor­denada que, ao lado de outra coordenada espacial, faculta a identificação univocamente de um fato ou ocor­rência.
O ser psicológico movimenta-se em liberdade, po­dendo viver o passado no presente, o presente no mo­mento e o futuro, conforme a projeção dos anseios, igualmente na atualidade. As dimensões temporais ce­dem-lhe lugar às fixações emocionais, responsáveis pela conduta do eu profundo.
Face a essa distonia entre o tempo físico e o emoci­onal, cria-se a ilusão que se incorpora como necessida­de de vivência imediata, primordial para a vida, sem o que o significado existencial deixa de ter importância.
A escala de valores do indivíduo está submetida à relatividade do conceito que mantém em torno do que anela e crê ser-lhe indispensável. Enquanto não apro­funda o sentido da realidade, a fim de identificar-lhe os conteúdos, todos os espaços mentais e emocionais permanecem propícios aos anseios da ilusão.
É ilusória a existência física, apertada na breve di­mensão temporal do berço ao túmulo, de um início e um fim, de uma aglutinação e uma destruição de molé­culas, retornando ao caos de onde se teria originado, fazendo que o sentido para o eu profundo seja destitu­ído de uma qualificação de permanência. Como efeito mais imediato, a ilusão do gozo se apropria do espaço-tempo de que dispõe, estabelecendo premissas falsas e gozos igualmente enganosos.
A dilatação do processo existencial, começando antes do berço e prosseguindo além do túmulo, oferece objetivos ampliados, que se eternizam, proporcionan­do contentos satisfatórios que se transformam em rea­lizações espirituais de valorização da vida em todos os seus atributos.
O ser humano não mais se apresenta como sendo uma constituição de partículas que formam um corpo, no qual, equipamentos eletrônicos de alta procedência reúnem-se casualmente para formar a estrutura huma­na, o seu pensamento, suas emoções, tendências, aspi­rações e acontecimentos morais, sociais, econômicos, orgânicos...
Essa visão do ser profundo desarticula as engre­nagens falsas da fatalidade, do destino infeliz, das tra­gédias do cotidiano, dos acontecimentos fortuitos que respondem pela sorte e pela desgraça, dos absurdos e funestos sucessos existenciais.
Abre perspectivas para a auto-elaboração de valo­res significativos para a felicidade, oferecendo estímu­los para mudar o destino a cada momento, a alterar as situações desastrosas por intermédio de disciplinas psí­quicas, portanto, igualmente comportamentais, supe­rando as ilusões fastidiosas e rumando na direção da realidade permanente à qual se encontra submetido.
Certamente, os prazeres e divertimentos, os jogos afetivos -quando não danosos para os outros, geran­do-lhes lesões na alma- as buscas de metas próximas que dão sabor à existência terrena, devem fazer parte do cardápio das procuras humanas, nesse inter-relaci­onamento pessoal e comportamental que enriquece psicologicamente o ser profundo.
O fato de expressar-se como condição de indes­trutibilidade, não o impede de vivenciar as alegrias tran­sitórias das sensações e das emoções de cada momen­to. Afinal, o tempo é feito de momentos, convencional­mente denominados passado, presente e futuro.
Qualquer castração no que diz respeito à busca de satisfações orgânicas e emocionais produz distúrbio nos conteúdos da vida. No entanto, o apego exagerado, a ininterrupta volúpia por novos gozos, a incompletude produzem, por sua vez, outra ordem de transtornos que atormentam o ser, impedindo-o de crescer e desenvol­ver as metas para as quais se encontra corporificado na Terra.
Diversos estudiosos da psique humana atribuem ao conceito de imortalidade do ser uma proposta ilu­sória, necessária para o seu comportamento, a partir do momento em que se liberta do pai biológico, trans­ferindo os seus conflitos e temores para Deus, o Pai Eter­no. Herança do primarismo tribal, esse temor se torna­ria prevalecente na conduta imatura, que teria necessi­dade desse suporte para afirmação e desenvolvimento da personalidade, como para a própria segurança psi­cológica. Como consequência, atribuem tudo ao caos do princípio, antes do tempo e do espaço einsteiniano.
Se considerarmos esse caos, como sendo de natu­reza organizadora, programadora, pensante, anuímos completamente com a tese da origem das formas no Universo. Se, no entanto, lhe atribuirmos condição for­tuita e impensada dos acontecimentos, somos levados ao absurdo da aceitação de um nada gerar tudo, de uma desordem estabelecer equilíbrio, de um desastre de coi­sa nenhuma -por inexistir qualquer coisa- dar origem à grandeza das galáxias e à harmonia das micropartí­culas, para não devanearmos poeticamente pela beleza e delicadeza de uma pétala de rosa perfumada ou a le­veza de uma borboleta flutuando nos rios da brisa sua­ve, ou das estruturas do músculo cardíaco, dos neurô­nios cerebrais...
A Vida tem sua causalidade em si mesma, pensan­te e atuante, que convida a reflexões demoradas e qualitativas, propondo raciocínios cuidadosos, a fim de não se perder em complexidades desnecessárias. Por efei­to, todos os seres sencientes, particularmente o huma­no, procedem de uma Fonte Geradora, realizando gran­diosa viagem de retorno à sua Causa.
Os conflitos são heranças de experiências fracassa­das, mal vividas, deixadas pelo caminho, por falta de conhecimento e de emoção, que se vão adquirindo eta­pa-a-etapa no processo dos renascimentos do Espírito -seu psiquismo eterno.
A ilusão resulta, igualmente, da falta de percepção e densidade de entendimento, que se vai esmaecendo e cedendo lugar à realidade, à medida que são conquis­tados novos patamares representativos das necessida­des do progresso. São essas necessidades -primárias, dispensáveis, essenciais- que estabelecem o conside­rando do psiquismo para a busca do que lhe parece fundamental e propiciador para a felicidade.
O eu permanece, enquanto a ilusão transita e se transforma. Quanto hoje se apresenta essencial, algum tempo depois perde totalmente o valor, cedendo lugar a novas conquistas, que são, por sua vez, técnicas de aprendizagem, de crescimento, desde que não deixem na retaguarda marcas de sofrimento, nem campos devastados pelas pragas das paixões primitivas.
Momento chega a todos os seres em desenvolvi­mento psicológico, no qual, se recorre à busca espiritu­al, à realização metafísica, superando-se a ilusão da car­ne, do tempo físico, assim equilibrando-se interiormente para inundar-se de imortalidade consciente.

AMOR, IMBATÍVEL AMOR DIVALDO PEREIRA FRANCO DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS